segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Felicidade de ser útil aos mortos

                         Felicidade de ser útil aos mortos



«Oh, se tudo estivesse acabado para sempre, se eu não pudesse me ocupar mais dele, se não tivesse mais o prazer, não digo só, de torná-lo a ver no Céu, mas de lhe ser ainda útil durante o resto de minha vida, como seria isto cruel!» dizia uma pobre mãe junto ao corpo inanimado de seu filho. Deveria ser muito doloroso, sim; mas consolai-vos, pobres filhos, vós podereis ainda ser úteis àqueles que a morte vos roubou, podeis ajudá-los a mais depressa ganhar o Céu! A Igreja compreendeu essa necessidade de vosso coração e deu alimento a vosso amor. 
A morte separa: parte os laços materiais que nos prendiam uns aos outros; não dissolve os laços imateriais que ligavam uma alma a outra alma, um coração a outro coração. Está longe, não está perdido: é o grito da alma cristã, e assim, um pai, uma mãe, um filho podem sempre ocupar-se daqueles que amavam, quando os possuíam consigo, e que ainda prezam, mesmo sem os verem. Os atos de dedicação, de que foram cheios os vossos dias e que tinham por objeto fazê-los felizes, podeis praticá-los ainda, e, oferecendo-os a Deus pelo repouso dessas almas, vós continuareis a trabalhar em sua felicidade. O trabalho material que fazíeis por eles podeis prossegui-lo ainda em sua intenção, e o fruto lhes será aplicado pela misericórdia divina. As riquezas que acumuláveis para eles, podeis juntá-las ainda, e o que em seu nome distribuirdes aos pobres, lhes há de ser comunicado por Deus de um modo muito mais útil do que vós mesmos o teríeis feito. «Conheci, diz o Visconde Walsh, um luterano que, por amor de nossa crença no Purgatório, se fez católico. Perdera um irmão querido no meio de um banquete e lembrava-se a cada instante, dessa passagem tão brusca de uma orgia para o fundo de um féretro. Ah! disse-me ele num dia de finados, por causa de meu irmão vou me fazer católico... Quando me for permitido rezar por meu irmão, então respirarei, viverei para pedir todos os dias o Céu para aquele a quem tanto estimei na terra. Vossa Igreja faz que os seres que se prezam possam ajudar-se mutuamente ainda depois da morte. Vossas orações tiram ao sepulcro sua mudez pavorosa, Vós conversais ainda com os que já partiram desta vida; conhecestes a fraqueza humana, essa fraqueza que não é crime, mas ainda menos é a pureza; e, entre os limites do Céu e do inferno, Deus vos revelou um lugar de expiação, o Purgatório. Meu irmão está aí, talvez: eu me faço católico para libertá-lo dessa prisão para me consolar neste inundo, para me aliviar deste peso que me oprime, peso que eu não sentirei mais, quando me for dado orar.»

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