terça-feira, 7 de janeiro de 2020

A Esperança - Parte 2



Ainda algumas palavras de esperança sobre as almas de nossos mortos. Fala o padre Bougaud em sua obra: O Cristianismo e os tempos presentes. «Quem poderá narrar as misericórdias de Deus no leito de morte de seus filhos? Aí nessas sombras confusas da hora ultima, em que o olhar do homem nada mais distingue, quem pode saber o que se passa entre Deus e uma alma? Quando o espírito paira nos lábios como um ligeiro sopro, já não mais da terra, nem ainda do Céu: no momento: em que Deus se inclina para recolher essa alma, quem poderá dizer o que se passa? Uma mãe repeliria seu filho, ainda mesmo sendo um ingrato? não tentará ela por todos os meios trazê-lo de novo a si? Não irá sempre ao seu encontro, até o fim? não esgotará todos os recursos para salvá-lo, a despeito de toda a obstinação dele em fugir-lhe? Ora, Deus é mais do que a mãe. Vede o que fez Ele para tornar impossível a perda das almas! Não lhe bastou haver-nos envolvido nessa graça que nos previne, nos segue e nos banha como uma atmosfera. Foi pouco ter estabelecido sete sacramentos, isto é, sete rios de luz e de força que inundam a vida inteira e cada um de seus períodos, como tudo isso não satisfazia ainda seu coração de pai, vede e adorai a maravilhosa invenção de seu amor. Estais enfermo: já sentis que sobre vós estende a morte suas negras asas. Acodem-vos à memória vossos pecados, vossas fraquezas, aquele ato do qual vos disse a consciência: Isto, incontestavelmente, é um mal. O sacerdote não chega a tempo de recolher vossa confissão, oferecê-la a Deus e vos perdoar em seu nome: que fazer? Vós tendes um coração: arrancai dele um alento, um grito, uma lágrima, uma palavra de arrependimento, um ato de amor, um só! sereis logo absolvido: ficais purificado e perdoado. Aquele homem, prestes a morrer, ainda há pouco blasfemava; o sacerdote veio, ele o repeliu: apresentaram-lhe o Crucifixo, ele o afastou com a mão. Foi seu derradeiro movimento; seu último ato. Os socorros da religião não poderão chegar mais até sua alma já profundamente mergulhada nas sombras da morte. Mas resta-lhe o coração, e, para ser salvo, perdoado, que será preciso? Um simples ato de amor, um só desejo, um só pesar, uma só palavra: Meu Deus, eu vos amo! Homens cegos, que chorais de desespero em redor desse leito! talvez à mesma hora os anjos conduzam essa alma com gritos de alegria. Ela salvou-se com esse ato de amor. O Purgatório a recebeu.
Esse homem que acaba de suicidar-se, cometeu um crime sinistro. A Igreja afasta-se com horror de seus restos mutilados, e faz bem. Mas ensinará ela que o mísero esteja perdido sem recurso? Não, absolutamente ; pois quem sabe o que fez este alma no momento em que, lacerada, partiu desse mundo? Quem sabe o que ela viu ao clarão do tiro de morte? que revelação teve ao disparar a arma fatal? Teve muito pouco tempo! direis vós. Ah! que importa? Uma palavra, um grito, um olhar, um transporte de amor a Deus, basta para que ela saia deste mundo purificada.»

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