sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

A Esperança Parte 1



 Um pensamento sombrio vem, talvez, lançar o terror na alma à hora em que evoca a lembrança de seus mortos. «Ah! diz ela, eu me tranquilizaria, ficaria em paz e me julgaria feliz, se pudesse contá-lo no Céu, se houvesse falecido cercado das preces da Igreja e purificado pelos últimos sacramentos, Mas ah! morreu de repente, morreu longe do bom Deus a quem tinha esquecido em sua vida inteira!» Pobre coração aflito, eu vos responderei a isto com as palavras que a Igreja me autoriza a dizer-vos: A Igreja não condena definitivamente a ninguém. Baixa decretos para declarações de que uma alma está no Céu e assim pode ter culto, mas nunca expede nenhum, publicando que uma alma esteja no inferno. São Francisco de Sales não queria que se desesperasse nunca da conversão dos pecadores até seu último suspiro, e, ainda depois de mortos, não admitia que se julgasse mal mesmo dos que tinham levado uma vida irregular, a não ser daqueles cuja condenação consta da Escritura. Alegava como razão disso que nem a primeira graça nem a derradeira, que é a perseverança, se dá por mérito, isto é, ambas são de todo gratuitas. Entendia, portanto, que se devia presumir sempre bem da pessoa que expirava, ainda não sendo sua morte edificante, porque todas as nossas conjecturas só se podem firmar sobre as aparências, e essas, muitas vezes, iludem ainda os mais experientes. «Entre o último suspiro do moribundo e a eternidade, há um abismo de misericórdia, » disse um bispo ilustre. — Passam- se entre Deus e a alma certos mistérios de amor que nós só conheceremos no Céu. Que precisa este agonizante para obter o perdão? Uma luz que lhe mostre a justiça e a misericórdia divinas; uma luz, ainda rápida como um relâmpago; essa luz pode produzir um sentimento de contrição e de amor, este sentimento basta para lhe fechar o inferno e abrir o Purgatório. Esta luz é Jesus, apresentando-se àquela alma e dizendo-lhe com um olhar ligeiro como o pensamento: É a mim ou ao demônio que tu queres? e a alma dizendo com a mesma rapidez: A vós, a vós, Senhor! e a misericórdia triunfa! Esperai pois, esperai sempre; dirigi vossas preces constantes por esses mortos que vos fazem estar inquietos: ninguém pode calcular até que ponto essas preces podem ser atendidas.

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