terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Maria socorre o Seus devotos que se encontram no Purgatório

Os devotos da Santíssima Mãe são muito felizes, porque não somente Ela os ajuda quando estão em vida, mas são assistidos e consolados pela Sua proteção também no Purgatório. Naquele lugar as almas não podem ajudar-se sozinhas e precisam ainda mais de alívio, porque são mais  atormentadas, por isto a Mãe de Misericórdia se empenha muito mais a socorre-las de quando estavam na terra.

A Mãe Divina disse a Santa Brigida: eu sou a Mãe de todas as almas que se encontram no Purgatório e intervenho continuamente com as minhas orações para diminuir as penas que merecem pelas culpas cometidas durante a vida delas. As vezes a piedosa Mãe nem nega de entrar naquela santa prisão para visitar e consolar as Suas filhas aflitas. Nos Provérbios está escrito: "Passei nas profundidades dos abismos". São Boaventura atribui este pensamento a Maria e explica: "Eu penetrei no fundo daquele abismo, isto é, o Purgatório, para aliviar com a Minha presença, aquelas almas santas". Diz São Vicente Ferreri: "A Madona é tão cortez e boa com quem sofre no Purgatório e intervém continuamente doando a elas conforto e alivio!".

Um dia, Santa Brigida ouviu Jesus dizer à Mãe: "Tu és Minha Mãe, és a Mãe da Misericórdia, és a consolação daqueles que se encontram no Purgatório". A Beata Virgem disse a Santa Brigida que como um pobre doente, abandonado e aflito, com algumas palavras de conforto se sentem reviver, assim as almas se consolam também somente em ouvir o nome da Madona.

Maria não somente consola e ajuda os seus devotos do Purgatório mas com a Sua intercessão obtém a liberdade para eles. Escreveu Gerson e o confirma Novarino dizendo de ter lido nas obras dos Autores importantes que Maria no momento da Sua gloriosa Assunção pediu ao Filho a graça de poder conduzir com Si todas as almas que naquele momento se encontravam no Purgatório. São Benardino de Siena confirma com absoluta certeza que a Beata Virgem tem a faculdade, através da oração e aplicando também os Seus méritos, de liberar as almas do Purgatório e particularmente os Seus devotos.

Refere São Pedro Damião que uma mulher de nome Marzia, morta já da algum tempo, apareceu a uma sua amiga e lhe disse que o dia da Assunção de Maria tinha sido liberada do Purgatório da Rainha do Céu junto a tantas outras almas. O mesmo confirma São Dionísio Cartusiano pela festividade do Nascimento e da Ressurreição de Jesus Cristo. O Santo afirma que em tais dias Maria desce no Purgatório acompanhada da fila de Anjos e libera muitas almas daquelas penas. Novarino pensa que isto aconteça em qualquer festa solene da Santa Virgem.
 

É conhecida a promessa de Maria ao Papa João XXII. Em uma aparição lhe ordenou de fazer conhecer a todos que aqueles que tivessem levado o sagrado escapulário do Carmo, teriam sidos liberados do Purgatório o sábado depois da morte deles. Refere padre Crasset que o Pontífice o declarou e depois foi confirmado por Alessandro V, por Clemente VII, Pio V, Gregorio XIII e Paolo V.

A Beata Virgem encarregou frei Abbondo de levar uma mensagem da Sua parte ao Beato Godofredo: "Diga a frei Godofredo que progrida nas virtudes, assim pertencerá ao Meu Filho e a Mim. Quando a sua alma deixará o corpo, não permitirei que vai em Purgatório, mas a pegarei e a oferecerei a Jesus". Se desejamos ajudar as almas santas do Purgatório, oremos sempre a Santa Virgem por elas e em particular com o Santo Rosário que lhes propicia um grande alivio.


segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Os Méritos da Cari­dade para o alívio e libertação das santas almas so­fredoras do purgatório


São João Crisóstomo aconselhava, numa exorta­ção, uma maneira de aliviar o sofrimento da sauda­de dos mortos, de um filho querido que a morte arre­batou, de um ente, enfim, que vimos partir para a eternidade, deixando-nos saudosos. Diz o Santo Dou­tor: “Perdeste um filho querido e não sabeis o que fazer para testemunhar a vossa dor. Quereis ser útil ainda ao vosso filho? Nada mais simples. Assiste a um coerdeiro pobre. Tomai um pobre para socor­rer. Dai aos pobres o que desejaríeis dar ao morto querido que chorais. Não tereis perdido o herdeiro do céu e arranjareis um coerdeiro na terra, que é o pobre. Em vez de uns miseráveis bens temporais que havíeis de deixar para um filho, lhe dareis a he­rança da posse de Deus no céu nos bens eternos. Eis como podeis socorrer vossos entes queridos muito mais do que se estivessem neste mundo”.
Ordena a admirável e santa Regra de São Bento que quando morra um monge, durante trinta dias se ofereçam por sua alma o Santo Sacrifício e a ração de alimento que lhe pertencia seja dada aos pobres.
Que bela tradição! Sejamos caridosos para com os pobres da terra o apliquemos o mérito desta cari­dade para o alívio e libertação das santas almas so­fredoras do purgatório. Pratiquemos a dupla caridade.

domingo, 29 de dezembro de 2019

Ai! Como são esquecidos os mortos!

Quem se lembrará de nós alguns anos após a nos­sa morte? Talvez uma lembrança vaga, uma evocação de saudade muito apagada. E como somos orgulho­sos hoje! Tanto nos fere a mágoa um esquecimento mesmo involuntário! Felizes os que se desiludem e se desapegam das amizades e vanglorias da terra an­tes que chegue a Mestra e Doutora da Vida — a Morte!

Como se compadecem todos dos enfermos! Que carinho e solicitude e mil sacrifícios em torno do lei­to de um pobre doente que geme! Porém, veio a mor­te. Pranto, homenagens sentidas, flores, túmulos, necrológios, e... esquecimento. Hoje afastam a idéia da morte como se fôssemos todos imortais. É mis­ter esquecer os defuntos, deixá-los no túmulo, evitar esta preocupação doentia da morte e da eternidade.

Morreu, acabou-se! Vamos rir, vamos dançar e cantar. Deixemos que a vida corra alegre e feliz. Não pensemos mais na morte e muito menos em mor­tos. Não é assim que fala e age o mundo louco e ma­terialista de hoje?

Ai! Como são esquecidos os mortos! O materia­lismo estúpido não compreende nem a beleza, nem a consolação, e o culto da memória dos mortos como o tem a Igreja católica. Para nós, eles não morreram, mudou-se-lhes a condição da vida: Vita mutatur, non tollitur!

sábado, 28 de dezembro de 2019

Santa Margarida Maria e as três Almas do Purgatório

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"No dia primeiro do ano, Santa Margarida Maria rezava por três pessoas recentemente falecidas. Duas religiosas e um secular. Nosso Senhor lhe apresentou as três almas, dizendo-lhe: Qual das três queres salvar primeiro, minha filha?
— Senhor, escolhei Vós mesmo, segundo o que for para vossa maior glória.
Então Nosso Senhor escolheu a pessoa secular, dizendo que as religiosas tiveram nesta vida muito mais graças e meios para expiar os pecados pela observância da Regra, e que o secular não havia recebido tantos privilégios e favores... Os ignorantes, os pobrezinhos, os humildes cheios de boa vontade e que não receberam de Deus tantas graças e meios de se santificar como as almas consagradas a Deus, terão naturalmente muita escusa no Tribunal divino e bem aliviado lhes será o purgatório pela divina misericórdia.
Os religiosos meditem como em diversas aparições particulares Nosso Senhor revela quanto pune na outra vida a falta de observância da Santa Regra e como esta Santa Regra facilita a expiação da pena temporal neste mundo e abrevia, senão livra a alma consagrada do purgatório. A observância regular é um meio poderoso de santificação, uma grande penitência que enche a alma deméritos.
Por um pouco de sacrifício de quantas penas não se livram na outra vida os religiosos fiéis à santa Regra. E como devem tremer as almas consagradas ao pensarem nas contas mais rigorosas que hão de dar a Deus pelo número tão grande de graças escolhidas que receberam e às quais talvez não tenham correspondido."

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Consolações do Purgatório

Então há no purgatório alegrias e consolações? É possível que em meio de tanta dor, de tão horríveis suplícios como os da pena do dano e do fogo, haja ainda um raio de luz, uma alegria, uma consolação para as pobres almas?

Sim, porque o purgatório é a pátria da justiça rigorosa, mas o é também da infinita misericórdia de Deus. Já não é uma grande misericórdia Deus nos reservar um lugar de expiação além-túmulo? Purifi­car-nos misericordiosamente para nos tornarmos dig­nos de sua eterna Presença? Ó, sim, o purgatório é uma misericórdia de Nosso Senhor. E como todas as obras da divina misericórdia, há de ter a unção e a doçura da Eterna Bondade. Quanto nos apavora a Justiça divina naquelas chamas expiadoras e que terror para nossa alma saber o que nos espera depois desta vida! Todavia, console-nos a idéia de que há no purgatório consolações que excedem a todas que pos­samos ter nesta vida. É um tormento e uma felici­dade sem par. Um mistério que nos será desvenda­do mais tarde. Alguns autores insistem muito no sofrimento do purgatório e nada falam das alegrias e consolações. É mister guardar um justo equilíbrio.

Nem transformar o purgatório num verdadeiro in­ferno, nem fazer dele o paraíso. É um lugar de expia­ção e de tormentos horríveis, não há dúvida, mas há nele a doce esperança da salvação, esperança acom­panhada da certeza absoluta de um dia chegar à pos­se de Deus na Bem-aventurança. E isto não é uma felicidade sem par? Quando São Francisco de Assis soube que era um predestinado e viu garantida por revelação do céu a sua glória, teve uma alegria tão grande, que nenhuma linguagem humana o poderia traduzir. Que não será a alegria das pobres almas na certeza de serem predestinadas?

São Francisco de Sales, cuja doutrina é um bál­samo suavizante das almas, fala das alegrias e con­solações do purgatório. Escreve o melífluo Doutor: “A maioria dos que temem o purgatório é muito mais por interesse e amor de si mesmos do que pelo inte­resse de Deus. E daí vem que falam ordinariamente só das penas daquele lugar e nunca falam da felici­dade e da paz que desfrutam as almas que lá estão. É verdade que os tormentos são extremos, e as maio­res e mais terríveis dores desta vida não se podem comparar a eles, mas também as satisfações interio­res são tais e tantas, que nenhuma prosperidade nem alegria da terra existe que a elas se possam igualar. Si é uma espécie de inferno quanto à dor, é um pa­raíso quanto à doçura que a caridade difunde no co­ração. Caridade mais forte do que a morte e mais poderosa do que o inferno. Feliz estado mais dese­jável que temível, pois suas chamas são chamas de amor e de caridade. Terríveis penas, sim, pois elas retardam a hora da visão de Deus, e de amar a Deus e louvá-lo e glorificá-lo por toda eternidade”[1].

Eis aí o tormento e a alegria das almas do pur­gatório.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Livramento das Almas do Purgatório

O quarto desejo do Coração de Jesus 
é o livramento das almas do Purgatório
Almas queridas de Jesus, almas muito amadas que Ele vê sofrer, e que, em respeito a Sua justiça, ainda não pode livrar!
Estas almas chamam-nO, desejam-nO, dizem-Lhe a cada instante: “Quando Vos veremos, Senhor?… E choram menos pe­las dores que experimentam que por se verem separadas de Jesus! Parece-me, dizia uma Santa, estar vendo Jesus que estende para mim uma das Suas mãos, dizendo-me: “Es­tas pobres almas devem-me orações, missas mal ouvidas, mortificações, esmolas que de­veriam ter feito… Satisfazei por elas”.
Sim, Jesus, quero começar hoje mesmo.
“Darei, de tempos a tempos, uma es­mola pelas almas do Purgatório”.
Exemplo
Santa Margarida Maria recomendou, vivamente, em suas instruções, o seguinte: “À noite, dareis uma voltinha pelo Purgatório, em companhia do Sagrado Co­ração, consagrando-Lhe tudo o que houverdes feito, e pedindo que Se digne aplicar os Seus merecimentos às santas almas que padecem. E ao mesmo tempo lhes pedireis também, queiram interpor o seu poder para vos alcançarem a graça de “viver e de morrer no amor e fidelidade ao Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo, correspondendo aos Seus desejos de [amor]”. Noutro escrito que deixou, lê-se: “Numa noite de Quin­ta-feira Santa, tendo eu alcançado licença para passá-la diante do SS. Sacramento, estive uma parte do tempo como cercada destas almas pobres: e Nosso Senhor disse-me que me dava a elas todo este ano, para lhes fazer todo o bem que pudesse. 
Desde então, vem elas ter muitas vezes comigo; e não lhes dou outro nome senão o de minhas “amigas penadas”. Eu pedia em fa­vor delas sufrágios e aplicações de Missa dizendo: “Muito mais obrigada vos fico pelo bem que lhes pro­curais do que se a mim mesma o fizésseis”. Outras vezes, regozijava de terem saído livres pelas orações e penitências que por elas fizera: “Esta manhã, domingo do Bom Pastor, duas das minhas boas amigas que so­frem, vieram dar-me um adeus; porque hoje o sobe­rano Pastor as recebia no Seu redil da eternidade, com outras que iam entoando cânticos de alegria que se não podem explicar”. Estes piedosos sentimentos de Sta. Mar­garida Maria se manifestavam também na mesma época numa Religiosa de alta virtude. Maria Vitória da Encarnação, do Convento das Clarissas da Bahia, cuja vida foi escrita pelo arcebispo D. Sebastião Monteiro. 
Era a santa freira fervorosíssima devota dos mistérios da Paixão de Nosso Senhor e, às sextas-feiras, fazia a via sacra, carregando uma pesada cruz e levando à cabeça uma coroa de espinhos a disciplinar-se de modo que o sangue esguichava sobre as paredes ou corria pelo pavimento; assim, às vezes, a se arrastar de joelhos, ia até o lugar das sepulturas e se prostrava sobre elas orando. 
Tinha ainda uma particular devoção ao arcanjo São Miguel como o defensor das almas do Purgatório, para cujo alívio fazia muitos sufrágios e oferecia todas as obras de humildade que praticava. Por isso, escreve o seu ilustre biógrafo, elas a procuravam com toda a confiança: indo, uma vez, altas horas da noite, ao coro fazer oração, ouviu lastimoso gemido de um defunto que, por chegar tarde à igreja, ficara por enterrar: co­brando ânimo, perguntou o que queria, e ele respondeu, pedindo mandasse fazer sufrágios de que muito preci­sava; satisfez o pedido no dia imediato, e o defunto, mais tarde, veio agradecer-lhe. Uma noite, viu a alma de uma sua serva que lhe falava, quando a companheira que dormia perto, despertando e vendo um clarão em sua cela, ao tempo em que lhe ouvia a voz, gritou assustada, fazendo acordar toda a comunidade. 
Viu, de outra vez, a alma da religiosa Madre Luzia, que subia ao céu. De uma feita, acabada a sua oração no coro, retirava-se, mas a cercaram de tal sorte as almas, que ficou a orar até romper a aurora. Como para mostrar que não era isso feito de pura imaginação, permitiu Deus que as almas lhe imprimissem como três dedos de fogo num ombro, e viram-nos várias Religiosas, a quem disse por graça: “As minhas amigas me cauterizaram; não quero mais brinquedos”. 
Por outro lado, elas lhe faziam carinhos e a serviam: em noite de excessivo calor, uma freira que falava à porta da cela, sentiu uma suavíssima viração e, não podendo explicar, perguntou donde vinha. Madre Vitória respondeu: “São as minhas amigas que me estão abanando”. — “Oh! que consolação é a de ver uma alma em salvação. Veio aqui, nestes dias, uma tão linda e resplandecente, que excedia a luz do sol”. E, valendo-se delas, conseguiu a muitas pessoas acharem o perdido, saberem de pessoas ausentes muito longe ou de coisas futuras que se não poderiam conhecer naturalmente, e curarem-se prestes de moléstias antigas e graves. Madre Vitória morreu em 1715, numa sexta-feira, às 3 horas da tarde, dando-se, nesta ocasião e depois, por muitas vezes, fatos extraordinários que confirmaram a reputação de santidade que já gozava em sua vida, e que tem uma longa e detida comemoração na Crônica da Ordem Seráfica.


(Excertos do livro: Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913)

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Os santos e as almas mais abandonadas

Muitos Santos tiveram esta devoção. Santa Ca­tarina de Genova, Santa Catarina de Sena, Santo Afonso de Ligório, São Francisco de Sales e princi­palmente o grande apóstolo da caridade, São Vicente de Paulo. Este grande coração, cuja vida se passou a ajudar os abandonados e infelizes da terra, por este mesmo instinto divino de caridade se voltava para as almas abandonadas e sofredoras do purgatório. Era a sua grande devoção socorrer as almas mais abandonadas.

Uma piedosa serva de Deus, Irmã Maria Denise da Visitação, e que no século se chamava Mme. Martignat, pertencente a família da nobreza, ao invés de encomendar a Nosso Senhor a alma dos pobrezi­nhos, recomendava a alma dos ricos e dos grandes da terra. Estranharam isto e ela dava as razões: “São às vezes as almas mais abandonadas e as que tem mais necessidade de sufrágios. Passaram uma vida folgada, não fizeram muita penitência e sabe Deus que terrível purgatório não lhes está reserva­do, se conseguiram se salvar pela Divina Misericór­dia”. E tinha razão. Além do mais, depois das pom­pas fúnebres nas quais entra muita vaidade da fa­mília, às vezes segue-se um esquecimento e abando­no completo do pobre morto. Oremos muito pelas almas abandonadas, porque elas não deixarão de pe­dir por nós quando libertadas por nossos sufrágios. Para a Igreja nunca seremos almas abandonadas, é verdade.

A Igreja, nossa Mãe, só ela nunca esquece e cada dia sem cessar, em milhares de altares em toda ter­ra, lembra, ante a Hóstia divina, os mortos. — Me­mento! Memento! Lembrai-vos, Senhor, daqueles que nos precederam com o sinal da fé e agora descansam no sono da paz. Nós Vos suplicamos, Senhor, dignai- vos concedê-la a estes e a todos que descansam em Jesus Cristo Nosso Senhor.

Que tocante oração! Só para a Igreja os mortos não são esquecidos.

Tanta lágrima, tantas flores, tantos suspiros em alguns dias e meses. Depois... o frio e duro esqueci­mento. Dura lei! É verdade, não havemos de chorar a vida toda os nossos mortos, e a esperança cristã nos diz, no Prefácio da Missa, dos defuntos que a vida para eles não se acaba, muda-se — Vita mutatur, non tollitur. Eles, os nossos mortos, vivem no seio de Deus. E a maioria deles expia nas chamas do purgatório. É uma verdade terrível e consoladora. E por isto nosso esquecimento é grave e cruel.

Que para nós não haja almas abandonadas! Es­tejam todas em nossa lembrança e em nossos sufrá­gios. Depois da morte veremos quanto nos foi pro­veitosa esta bela devoção e este ato generoso de caridade.

Imitemos os Santos, que acudiam generosamente as almas mais abandonadas.

domingo, 22 de dezembro de 2019

Purgatório - O "Ato Heróico"

Que é o “ato heroico”?

 


“É o ato que consiste em oferecer à Divina Ma­jestade, em proveito das almas do purgatório, todas as obras satisfatórias que fizermos durante a vida e todos os sufrágios que forem aplicados pela nossa alma depois da nossa morte”.

Tal é a definição autêntica deste ato aprovado oficialmente pela Igreja e indulgenciado. Chama-se heróico, porque realmente exige uma abnegação de todos os tesouros que possamos lucrar com nossas boas obras e contém uma renúncia de todos os su­frágios que oferecerem por nossa alma depois da nos­sa morte, em favor das almas do purgatório. Este ato há de ser feito, para ser válido, em perpétuo. É irrevogável na intenção de quem o faz. Não obriga sob pena de pecado. Se alguém, a quem faltou gene­rosidade ou teve receio de se privar de sufrágios de­pois da morte, quis de novo adquirir para si as suas obras satisfatórias, renunciou ao voto heróico, não comete pecado nem mortal nem venial.

Pelo ato heróico não renunciamos o mérito de nossas boas obras, isto é, o que nos dá nesta vida um acréscimo da graça e a glória no paraíso. Este me­recimento é nosso e não o podemos perder nem dá-lo aos outros. O ato heróico é uma obra muito meritó­ria, e este mérito de uma obra tão bela e heroica não o podemos perder. Só o mérito do ato heróico quanto não vale para nossa alma! Este mérito não o perde­mos. Depois desta obra satisfatória, tudo o mais que fizermos será das almas do purgatório. Desde que fazemos o ato heróico, todas as indulgências que lucramos são das almas. Tudo que de bom possamos fazer e ter mérito e lucrar alguma coisa será do pur­gatório, direito e propriedade das almas. É uma re­núncia total. Só a indulgência plenária da hora da morte não pode ser oferecida para as almas e será nossa, porque não é aplicável aos defuntos.

O ato heróico não impede de rezar nas próprias intenções e pelos mortos. Quando fazemos um ato de penitência e de oração, por exemplo, recitando um terço de joelhos, há neste ato, para falar uma lin­guagem teológica, três frutos diferentes: um fruto meritório que não o podemos perder é o mérito pes­soal de quem o pratica — o valor satisfatório do ato que é a penitência, o sacrifício feito, e este é para as almas é do ato heróico — e finalmente, uma força impetratória que é da oração como oração. A oração é uma força e Deus prometeu ouvi-la. O ato heróico não nos impede utilizar a força impetratória da oração.

Quem faz o ato heróico é como um religioso que fez o voto de pobreza: tudo o que ganha não lhe per­tence. A diferença é que o voto de pobreza obriga em consciência e o ato não. O abandono que a alma generosa faz em favor das almas do purgatório é fei­to, em geral, por todas e nunca em favor de uma ou outra alma. O ato heróico não impede que se ore por esta ou aquela alma em particular e se ofereça a Nosso Senhor muito sufrágio pelos nossos mortos queridos.

Não pode tudo isto ser feito na oferenda geral que fizermos a Deus?

Origem do ato heróico

O ato heróico em si, não é uma devoção nova na Igreja, como pretendem alguns. Em séculos passa­dos, muitos homens de grande santidade e grandes almas generosas ofereceram a Deus seus tesouros de obras satisfatórias em favor das pobres almas do purgatório. Santa Gertrudes, Santa Catarina de Sena, Santa Liduina e muitos outros santos tiveram esta generosidade. Santa Teresa fez este ato em favor de um mestre espiritual, o Provincial dos Carmelitas, falecido, e ela libertou-o do purgatório com suas ora­ções. Todavia, consideramos como fundador e apósto­lo do ato heróico o Pe. Gaspar Olinden, clérigo regu­lar dos Teatinos. Este sacerdote piedoso tinha uma devoção muito grande pelo Purgatório e sua grande preocupação e todo seu zelo ardente o empregava em favor das pobres almas. Lembrou-se deste ato heróico, desta oferenda generosa a Deus em favor do purgatório e apresentou-o ao Santo Padre Bento XIII, que não só o aprovou, mas o enriqueceu de indulgên­cias e privilégios. Depois, todos os Pontífices confir­maram a aprovação e estimularam e abençoaram tão belo ato.

Bento XIII, não contente de aprovar o ato heróico, ainda fez publicamente, e do púlpito, a entre­ga de todos os seus bens espirituais pelos mortos, como se pode ver nos sessenta sermões que pregou sobre este assunto.

Naquela época viram-se Ordens inteiras recomen­darem o ato heróico. O Superior Geral da Companhia de Jesus mandou recomendá-lo a todos os seus súditos. O Pe. Ribadanera piedoso hagiógrafo propa­gou muito o ato heróico e o Pe. Nierenberg. O Pe. de Montroy, no leito de morte, não só deu às almas o mérito de todas as obras satisfatórias feitas em vida, mas a sua caridade se estendeu além. Fez um tes­tamento sublime, diz o Pe. Faber “que não sei de ou­tro igual”: cedeu sem exceção para as almas do pur­gatório todos os méritos, orações, Missas, indulgên­cias que a Companhia de Jesus costuma aplicar aos seus membros defuntos, todos os sufrágios que seus amigos pudessem oferecer por ele e tudo enfim, pe­las almas.

Há muitos exemplos admiráveis de atos heróicos pelo purgatório.

Finalmente, nos últimos tempos Nosso Senhor suscitou uma grande alma devotíssima do purgató­rio e fundadora de uma Congregação religiosa espe­cialmente destinada a sufragar as santas almas e entregue toda a serviço do purgatório num ato heróico de caridade. Foi a Madre Maria da Providência. Des­de pequenina, esta serva de Deus sentia grande com­paixão pelas almas sofredoras. Um dia a encontra­ram muito pensativa e grave em meio dos brinque­dos da criançada. — Que esta pensando? — Sabem no que penso? Disse Eugênia (tal era o seu nome no século), eu penso numa prisão de fogo de onde não se pode sair e da qual com uma palavra se podem tirar os prisioneiros.

As companheiras a olharam surpreendidas. “Es­ta prisão de fogo é o purgatório e com uma palavra, com a oração, podemos libertar as almas”.

Mais tarde foi a fundadora de uma Congregação, única na Igreja, cujos membros se oferecem a Deus pelas almas e vivem o voto heróico.

Eis como se desenvolveu, nos últimos tempos, a bela prática do ato heróico.

Vantagens do ato heróico


Um ato tão generoso e que nos despoja de tan­tas riquezas e nos deixa até sem sufrágios depois da morte, poderá ter vantagens, lucra muito, porven­tura, quem o fez? Sim, mil vezes sim! É um engano pensar que se perde muito com o ato heróico. Ao invés, lucra-se mil vezes mais. Deus se deixa vencer em generosidade? Não há gratidão nas almas salvas por tão grande socorro?

O ato heróico é um ato cheio de mérito, é um ato perfeito que nos faz esquecer de nós mesmos para cuidar de nossos irmãos e da glória de Deus. Quem faz o ato heróico aumenta por este ato seu grau de graça neste mundo e o grau de gloria no outro. E o ato de caridade que pratica, não há de atrair a mise­ricórdia daquele Senhor que prometeu cem por um e o reino do céu ao menor bem que se faz neste mun­do por amor de Deus? “A caridade cobre a multidão dos pecados”, diz a Escritura, e este gesto de cari­dade heroica não há de obter perdão e descontar mui­tos pecados de quem o faz? E a indulgência plenária que se ganha com o ato heróico? E a indulgência ple­nária da hora da morte que nos pertence e não pode­mos aplicá-la para ninguém? E Nosso Senhor se dei­xará vencer em generosidade? Não tenha receio de sair prejudicado quem faz o ato heróico em favor das almas do purgatório. Este heroísmo de caridade será recompensado com superabundância de graças neste mundo e de glória no outro. Não nos preocupemos porque não podemos dispor de nossos tesouros em fa­vor de nossos mortos queridos como bem entendemos. Nosso Senhor cuidará deles muito mais, e nossa ca­ridade lhes há de ser um refrigério tão grande no purgatório e talvez concorra para libertá-los do pur­gatório muito mais depressa do que se estivessem dependendo de nossos pobres sufrágios muita vez até esquecidos.

E para terminar, vejamos as condições e as in­dulgências do ato heróico:

Para fazer o ato heróico é mister consultar o diretor espiritual ou um prudente confessor, procurar conhecer bem o que vai fazer e saber a responsabili­dade que assume. Não se deve fazê-lo levianamente e num momento de fervor irrefletido. É muito sé­rio e é preciso lembrar que é heróico! Não é pres­crita nenhuma fórmula especial. Poder-se-ia usar uma como esta: “Para vossa glória, ó meu Deus, e para imitar o melhor possível o Coração generoso de Jesus, meu Redentor, a fim de mostrar também minha dedicação para com a Santíssima Virgem Ma­ria, minha Mãe e Mãe das almas do purgatório, en­trego em suas mãos todas as minhas obras satisfa­tórias assim como o fruto de todas as que, porven­tura, se venham a fazer por minha intenção depois de minha morte, a fim de que Ela faça a aplicação às almas do purgatório segundo a sua sabedoria e como melhor lhe aprouver”. Quem faz o ato heróico pode lucrar as seguintes indulgências, aplicáveis aos defuntos: uma indulgência plenária cada vez que se aproxima da Comunhão nas condições do costume; vi­sita à igreja e oração pelo Papa. Outra indulgência plenária cada segunda-feira, ao ouvir Missa pelos mortos. Os sacerdotes que fizerem o ato heróico gozam do altar privilegiado pessoal em todos os dias do ano (P. P. O. 547.).

Exemplo

Um voto heróico

Uma donzela chamada Gertrudes, acostumara-se desde os mais tenros anos, a oferecer por inten­ção das almas do purgatório todas as suas boas obras. Era tão bem aceita esta devota prática no purgató­rio e no céu, que muitas vezes, o Salvador se com­prazia em designar-lhe as almas mais necessitadas. Estas, libertadas pela sua piedosa caridade, se lhe mostravam gloriosas, para lhe agradecerem e prometiam-lhe não esquecê-la no paraíso. Passava a vi­da neste santo exercício e, cheia de confiança, via em paz aproximar-se a morte, quando o infernal ini­migo, que de tudo sabe fazer ocasião para tentar os homens, começou a representar-lhe que ela se havia despojado de tudo e de todo mérito satisfatório de cada boa obra e ia cair no purgatório para nele ex­piar em longas penas todas as suas culpas.

Este tormento de espírito a lançara em tal de­solação, que seu Esposo celeste dignou-se de vir con­solá-la. “Por que, disse ele, ó Gertrudes, estás tão triste e pensativa? Tu que outrora gozavas da mais perfeita serenidade?”. Ah! Senhor, respondeu ela, em que deplorável situação me encontro! Vede, a morte se aproxima, achando-me eu privada da satisfação das minhas boas obras, que apliquei pelos defuntos; com que poderei pagar a dívida que contraí para com a divina Justiça? Replicou-lhe com ternura o Se­nhor: “Não temas, ó querida minha, porque ao con­trário, aumentastes pela tua caridade a soma de teus merecimentos, e não só tens bastantes para expiares as tuas leves culpas, mas adquiristes altíssimo grau de glória na bem-aventurança eterna. É assim que minha clemência reconhecerá com uma generosa recompensa, que cedo virás receber no paraíso a tua dedicação pelos defuntos”.

Desapareceu a estas palavras, e a alma de Gertrudes foi incendiada de um novo fervor e de um ardente desejo de socorrer as almas dos defuntos.

Enchamo-nos também de zelo e caridade para com essas almas, que rico galardão está prometido nos céus aos nossos esforços (Dyon, Cart. de nonviss. apud P. Mart. de Rox de statu animarum, cap. 20.).

sábado, 21 de dezembro de 2019

Auxílio, Auxílio, sofremos muito!

O que é o Purgatório?


É uma prisão de fogo na qual quase todas as almas salvas são submersas depois da morte e na qual sofrem as mais intensas penas.
Aqui está o que os maiores doutores da igreja nos dizem acerca do Purgatório.
Tão lastimoso é o sofrimento delas que um minuto desse horrível fogo parece ser um século.
Santo Tomás Aquino, o príncipe dos teólogos, disse que o fogo do Purgatório é igual em intensidade ao fogo do inferno, e que o mínimo contato com ele é mais aterrador que todos os sofrimentos possíveis desta terra! Santo Agostinho, o maior de todos os santos doutores, ensina que para serem purificadas de suas faltas antes de serem aceitas no Céu, as almas depois de mortas são sujeitas a um fogo mais penetrante e mais terrível do que nenhum que se possa ver, sentir ou conceber nesta vida.
Ainda que este fogo está destinado a limpar e purificar a alma, disse o Santo Doutor, ainda é mais agudo que qualquer coisa que possamos resistir na Terra.
São Cirilo de Alexandria não duvida em dizer que "seria preferível sofrer todos os possíveis tormentos na Terra até o dia final que passar um só dia no Purgatório".
Outro grande Santo disse: Nosso fogo, em comparação com o fogo do Purgatório, é uma brisa fresca ".
Outros santos escritores falam em idênticos termos desse horrível fogo.
Como é que as penas do Purgatório são tão severas? O fogo que vemos na Terra foi feito pela bondade de Deus para nossa comodidade e nosso bem estar.
Às vezes é usado como tormento, e é o mais terrível que podemos imaginar.
O fogo do Purgatório, pelo contrário, está feito pela Justiça de Deus para penar e purificar-nos e é, por conseguinte, incomparavelmente mais severo.
Nosso fogo, como máximo, arde até consumir nosso corpo; feito de matéria, pelo contrário o fogo do Purgatório atua sobre a alma espiritual, a qual é inexplicavelmente mais sensível a pena.
Quanto mais intenso é o fogo, mais rapidamente destrói a sua vitima; a qual, por conseguinte cessa de sofrer; por quanto o fogo do Purgatório infligi a mais aguda e a mais violenta pena, mas nunca mata a alma nem lhe tira a sensibilidade.
Tão severo como é o fogo do Purgatório, é a pena da separação de Deus, a qual a alma também sofre no Purgatório, e esta é a pena mais severa.
A alma separada do corpo deseja com toda a intensidade de sua natureza espiritual estar com Deus.
É consumida de intenso desejo de voar até Ele.
Ainda é retida, e não há palavras para descrever a angustia dessa aspiração insatisfeita.
Que loucura, então, é para um ser inteligente como o ser humano negar qualquer precaução para evitar tal espantoso feito.
É infantil dizer que não pode ser assim, que não o podemos entender, que é melhor não pensar ou não falar dele.
O feito é que, seja o cremos ou não, todas as penas do Purgatório estão mais altas do que podemos imaginar ou conceber.
Estas são as palavras de São Agustinho.
Sobre o Purgatório, Pode tudo isto ser verdade? A existência do Purgatório é tão certa que nenhum católico tem tido nunca uma duvida acerca dele.
Foi ensinado desde os tempos mais remotos pela Igreja e foi aceita com indubitável fé quando a Palavra de Deus foi pregada.
A doutrina é revelada na Sagrada Escritura e crida por milhões e milhões de crentes de todos os tempos. Ainda, tal como o temos remarcado, as idéias de alguns são tão vagas e superficiais neste tema tão importante, que são como pessoas que cerram seus olhos e caminham deliberadamente no fio de um precipício. Seria bem em recordar que a melhor maneira de cortar nossa estadia no Purgatório - o ainda mais, evitá-lo é ter uma clara idéia dele, e de pensar bem nele e adotar os remédios que Deus nos oferece para evitá-lo.
Não pensar nele é fatal. É cavar a si mesmos a fossa, e preparar para eles mesmos um terrifico, largo e rigoroso Purgatório.
O Príncipe Polaco
Houve um príncipe polaco, que por uma razão política, foi exilado de seu pais natal, e chegado à França, comprou um lindo castelo ali.
Desafortunadamente, perdeu a Fé de sua infância e estava, ocupado em escrever um livro contra Deus e a existência da vida eterna. Dando um passeio uma noite em seu jardim, se encontrou com uma mulher que chorava amargamente. Perguntou-lhe o porquê de seu desconsolo.
"Oh, príncipe, ela replicou, sou a esposa de John Marie, seu mordomo, o qual faleceu faz dois dias. Ele foi um bom marido e um devoto servente de Sua Alteza.
Sua enfermidade foi larga e gastei todos os recursos em médicos, e agora não tenho dinheiro para ir a oferecer uma Missa por sua alma "".
O príncipe, tocado pelo desconsolo desta mulher, lhe disse algumas palavras, e ainda que professava já não crer mais na vida eterna, lhe deu algumas moedas de ouro para ter a Missa por seu defunto esposo.
Um tempo depois, também de noite, o Príncipe estava em seu estúdio trabalhando febrilmente em seu livro.
Escutou um ruidoso tocar a porta, e sem levantar a vista de seus escritos, convidou a quem fosse a entrar.
A porta se abriu e um homem entrou e parou frente ao escritório de Sua Majestade.
Ao levantar a vista, qual não seria a surpresa do Príncipe ao ver a John Marie, seu mordomo morto, que o olhava com um doce sorriso.
Príncipe, lhe disse, "venho a agradecer-lhe pelas Missas que você permitiu que minha mulher encomendasse por minha alma. Graças ao Salvador Sangue de Cristo, oferecido por mim, vou agora ao Céu , mas Deus me permitiu vir aqui e agradecer-lhe por suas generosas esmolas".
Logo o agregou solenemente "Príncipe, há um Deus, uma vida futura, um Céu e um Inferno".
Dito isto, desapareceu.
O Príncipe caiu de joelhos e recitou um Credo.

Santo Antônio e seu amigo 

Aqui há uma narração de diferente classe, mas não menos instrutiva.
Santo Antônio, o ilustre Arcebispo de Florência, relata que um piedoso cavaleiro havia morrido, o qual tinha um amigo em um convento Dominicano no qual o Santo residia.
Varias Missas foram sufragadas por sua alma.
O Santo se afligiu muito quando, depois de um prolongado lapso, a alma do falecido lhe apareceu, sofrendo muitíssimo.
"Oh meu querido amigo" exclamou o Arcebispo, estás todavia no Purgatório, tu, que levaste tal piedosa e devota vida?".
"Assim é, e terei que permanecer aqui por um largo tempo" replicou o pobre sofredor, "pois em minha vida na terra fui negligente em oferecer sufrágios pelas almas do Purgatório.
Agora, Deus por seu justo juízo aplica os sufrágios que deviam ser aplicados por mim, em favor daqueles pelos quais devia ter rezado".
"Mas Deus, também, em sua justiça, me dará todos os méritos de minhas boas obras quando entrar ao Céu ; mas, primeiro de todo, tenho que expiar minha grave negligência de não me lembrar dos outros".
Tão certas são as palavras de Nosso Senhor "Com a vara com que medes serás medido".
Recorda, tu que lês estas linhas, o terrível destino desse piedoso cavaleiro será o daqueles que deixam orar e recusam ajudar as Santas Almas.


Leia-me ou lamenta-me

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Uma alma abandonada e salva por Maria

Conta Santo Afonso nas suas “Glórias de Ma­ria”, este exemplo que é a um tempo uma glorifica­ção da misericórdia da Mãe de Deus e uma prova do abandono em que pode ficar uma alma no purgatório.

Lê-se na vida de soror Catarina de Santo Agos­tinho, que havia no lugar em que morava esta serva de Deus uma mulher chamada Maria. A infeliz le­vara urna vida de pecados durante a mocidade. E já envelhecida, de tal forma se obstinara na sua perversidade, que fora expulsa pelos habitantes da cida­de e obrigada a viver numa gruta abandonada. Ai morreu, finalmente, sem os sacramentos e sem a as­sistência de ninguém. Sepultaram-na no campo, como um bruto qualquer. Soror Catarina costumava reco­mendar a Deus com grande devoção as almas de to­dos os falecidos. Mas, ao saber da terrível morte da pobre velha, não cuidou de rezar por ela, pensando, como todos os outros, que já estivesse condenada. Eis que, passados quatro anos, em certo dia se lhe apresentou diante uma alma do purgatório, que lhe dizia:

 Soror Catarina, que triste sorte é a minha! Tu encomendas a Deus as almas de todos os que mor­rem e só da minha alma não tens tido compaixão?

 Mas, quem és tu? Disse a serva de Deus.

— Eu sou, respondeu ela, aquela pobre Maria, que morreu na gruta.

— E como te salvaste? Replicou soror Ca­tarina.

— Sim, eu me salvei por misericórdia da Vir­gem Maria.

— E como?

— Quando eu me vi próxima à morte, vendo-me juntamente tão cheia de pecados e desamparada de todos, me voltei para a Mãe de Deus e lhe disse: Senhora, vós sois o refúgio dos de­samparados. Aqui estou neste estado, abandonada por todos. Vós sois a minha única esperança, só vós me podeis valer; tende piedade de mim. Então a SS. Virgem obteve-me a graça de eu poder fazer um ato de contrição; depois morri e fui salva. Além disso, esta minha Rainha alcançou-me a graça de ser abre­viada minha pena por sofrimentos mais intensos, po­rém menos demorados. Só necessito de algumas Mis­sas para me livrar mais depressa do purgatório. Ro­go-te que as faças celebrar. Em troca, prometo-te pedir sempre a Deus e à SS. Virgem por ti.

Soror Catarina logo fez celebrar as missas. De­pois de poucos dias, lhe tornou a aparecer aquela al­ma mais resplandecente do que o sol e lhe disse: Ago­ra vou para o paraíso, cantar as misericórdias do Se­nhor e rogar por ti.

Doutrina da Igreja sobre o Purgatório

O PURGATÓRIO


DOUTRINA CATÓLICA

Purgatório (Lat., "purgare", limpar, purificar), de acordo com o ensinamento Católico, é um lugar ou condição de pena temporária para aqueles que, partindo desta vida na graça de Deus, não estão inteiramente livre das faltas veniais ou não cumpriram completamente a satisfação devida por suas transgressões.

A fé da Igreja no que diz respeito ao purgatório é claramente expressa no Decreto de União composto no Concílio de Florença (Mansi, t. XXXI, col. 1031), e no decreto do Concílio de Trento (Sess. XXV) que definiu:

"Já que a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, apoiada nas Sagradas Letras e na antiga Tradição dos Padres, ensinou nos sagrados Concílios e recentemente também neste Concílio Ecumênico, que existe purgatório, e que as almas que nele estão detidas são aliviadas pelos sufrágios dos fiéis, principalmente pelo sacrifício do altar, prescreve o santo Concílio aos bispos que façam com que os fiéis mantenham e creiam a sã doutrina sobre o purgatório, aliás transmitida pelos santos Padres e pelos Sagrados Concílios, e que a mesma doutrina seja pregada com diligência por toda parte" (Denzinger, "Enchiridon", 983).

As definições da Igreja não vão além, mas a tradição dos Padres e os Escolásticos devem ser consultados para explicar os ensinamentos dos concílios e para esclarecer a crença e as práticas dos fiéis.


Pena temporária

É claro o ensino da Escritura de que a pena temporal seja devida ao pecado, mesmo depois do próprio pecado ter sido perdoado por Deus. Deus, de fato, fez o homem sair de sua primeira desobediência e deu-lhe o poder para governar todas as coisas (Sb 10,2), contudo o condenou a "comer o seu pão com o suor de seu rosto" até que volte ao pó. Deus perdoou a incredulidade de Moisés e Aarão, mas como pena, não os deixou entrar na "terra prometida" (Nm 20,12). O Senhor apagou o pecado de Davi, mas a vida do seu filho foi tirada porque Davi fez com que os inimigos de Deus blasfemassem contra seu santo Nome (II Sm 12,13-14). No Novo Testamento, como no Antigo, a esmola e o jejum, e de modo geral as obras de penitência, são os verdadeiros frutos do arrependimento (Mt 3,8; Lc 17,3; 3,3). Todo o sistema penitencial da Igreja testemunha que a aceitação voluntária de obras penitenciais tem sido sempre parte do verdadeiro arrependimento e o Concílio de Trento (Sess. XIV, can. xi) lembra aos fiéis que Deus nem sempre redime de toda a pena devida ao pecado junto com a culpa. Deus requer satisfação, e punirá o pecado, e esta doutrina envolve como necessária consequência a crença de que o pecador que falha em fazer penitência nesta vida, deva ser punido no outro mundo e assim não seja separado eternamente de Deus.


Pecados veniais

Aos olhos de Deus os pecados de modo algum são iguais, tanto que ninguém ousa dizer que as faltas cotidianas da fragilidade humana serão punidas com a mesma severidade com que o serão as graves violações da lei de Deus. Por outro lado, qualquer um que entre na presença de Deus deve ser perfeitamente puro, pois no mais estrito sentido os olhos de Deus "são por demais puros para verem o mal" (Hab 1,13). Pelas faltas veniais, pelo pagamento da pena temporal devida ao pecado na hora da morte, a Igreja sempre ensinou a doutrina do purgatório.

Esta crença foi tão enraizada em nossa comum humanidade que foi aceita pelos Judeus, e ao menos de modo obscuro pelos pagãos, muito antes da vinda do Cristianismo. ("Eneida", VI, 735 ss.; Sófocles, "Antígona," 450 ss.).


ERROS

Epifânio (Haer., lxxv, P.G., XLII, col. 513) acusa Aërius (séc. IV) de ter ensinado que as orações pelos mortos eram inúteis. Na Idade Média, a doutrina do purgatório foi rejeitada por Albigenses, Valdenses e Hussitas. São Bernardo (Serm. lxvi in Cantic., P.L. CLXXXIII, col. 1098) afirma que os chamados "Apostolici" negavam o purgatório e a utilidade das orações pelos defuntos. Muitas discussões foram levantadas sobre a posição dos Gregos na questão do purgatório. Parece que a grande diferença de opinião não era sobre a existência do purgatório, mas sobre a natureza do fogo purgatorial; todavia São Tomás prova a existência do purgatório em sua dissertação contra os erros dos Gregos, e o Concílio de Florença também achou necessário afirma a fé da Igreja no assunto (Belarmino, "De Purgatorio," lib. I, cap. i). A Igreja Ortodoxa moderna nega o purgatório, mas é ainda mais inconsistente para manifestar sua crença.

No início da Reforma houve certa hesitação especialmente da parte de Lutero (Disputa de Leipzig) se a doutrina deveria ser retida, mas como a brecha aumentou, a negação do purgatório tornou-se universal entre os Reformadores e Calvino chamou a posição católica de "exitiale commentum quod crucem Christi evacuat... quod fidem nostram labefacit et evertit" ("uma invenção destruidora que esvazia a cruz de Cristo... e que enfraquece e deturpa a nossa fé", Institutiones, lib. III, cap. v, 6). Os Protestantes Modernos, enquanto evitam o nome purgatório, frequentemente ensinam a doutrina do "estado intermediário" e Martensen ("Christian Dogmatics," Edinburgh, 1890, p. 457) escreve: "Já que nenhuma alma deixa esta existência presente num estado plenamente preparado e completo, devemos supor que haja um estado intermediário, uma região de desenvolvimento progressivo, (?) em que as almas são preparadas para o juízo final" (Farrar, "Mercy and Judgment," London, 1881, cap. iii).


PROVAS

A doutrina Católica do purgatório supõe o fato de que alguns morrem com faltas menores, das quais não houve verdadeiro arrependimento, e também o fato de que a pena temporal devida ao pecado não foi completamente paga nesta vida. As provas para a posição Católica, tanto na Escritura como na Tradição, também estão unidas na prática de se rezar pelos mortos. Pois por que razão rezar pelos mortos, se não houver uma crença no poder das orações de proporcionar conforto àqueles que ainda estão excluídos da visão de Deus? Tão veraz é este posicionamento que as orações pelos mortos e a existência de um lugar de purgação são mencionados conjuntamente nas mais antigas passagens dos Padres, os quais alegam razões para se socorrer as almas dos defuntos. Os que se opuseram à doutrina do purgatório confessaram que orações pelos mortos seriam um argumento irrefutável se a moderna doutrina de um "juízo particular" tivesse sido recebida nos tempos primitivos.


Mas basta ler os testemunhos alegados em seguida para se assegurar que os Padres falam, de uma vez só, de oblações pelos mortos de um lugar de purgação; e basta consultar as evidências encontradas nas catacumbas para igualmente se assegurar que a fé Cristã lá expressa abraçou claramente uma crença no juízo imediato à morte. Wilpert ("Roma Sotteranea," I, 441) assim conclui o capítulo 21, "Che tale esaudimento", etc.:

A intercessão foi feita pela alma do ente querido falecido e Deus ouviu a oração e a alma passou para um lugar de luz e refrigério". "Certamente," Wilpert acrescenta, "tal intercessão não teria lugar se não se tratasse do juízo particular e sim do final.


Alguma ênfase também foi colocada na objeção de que os antigos Cristãos não tinham concepção clara do purgatório, e que eles pensavam que as almas dos falecidos permaneciam na incerteza da salvação até o juízo; e consequentemente eles rezavam para que os que partiram antes pudessem ser livrados, no juízo final, dos tormentos eternos do inferno. As mais antigas tradições Cristãs são claras quanto ao juízo particular, e mais ainda no que tange a uma nítida distinção entre o purgatório e o inferno. As passagens alegadas como referentes a livrar-se do inferno não podem compensar as evidências dadas abaixo (Belarmino, "De Purgatorio," lib. II, cap. v). Quanto ao famoso caso de Trajano, que inquietou os Doutores da Idade Média, conferir Belarmino, loc. cit., cap. Viii.


Antigo Testamento

A tradição dos Judeus é proposta com precisão e clareza no II Livro dos Macabeus. Judas, o comandante das forças de Israel,

fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas. (2Mc 12,43-46)


No tempo os Macabeus, líderes do povo de Deus, não hesitaram em afirmar a eficácia das orações oferecidas pelos mortos, na intenção de que aqueles que partiram desta vida encontrassem perdão para seus pecados e esperança de eterna ressurreição.



Novo Testamento

Há várias passagens no Novo Testamento que apontam para um processo de purificação após a morte. Assim, Jesus Cristo declara (Mt 12,32): "Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem no século vindouro". De acordo com Santo Isidoro de Sevilha (Deord. creatur., c. xiv, n. 6) estas palavras provam que na próxima vida "alguns pecados serão perdoados e purgados por um certo fogo purificador". Santo Agostinho também argumenta que "não se diria verdadeiramente que alguns pecadores não serão perdoados nem neste mundo nem no próximo a menos que houvessem outros [pecadores] que, não perdoados neste, serão perdoados no próximo" (Cidade de Deus XXI.24). A mesma interpretação é dada por Gregório Magno (Dial., IV, xxxix); São Beda (comentário neste texto); São Bernardo (Sermo lxvi in Cantic., n. 11) e outros eminentes teólogos.


Um outro argumento é fornecido por São Paulo em 1Cor 3,11-15:

"Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento) demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo".


Enquanto esta passagem apresenta considerável dificuldade, ela é considerada por muitos dos Padres e teólogos como evidência da existência de um estado intermediário em que o entulho das transgressões mais leves será queimado, e a alma assim purificada será salva. Esta, de acordo com Belarmino (De Purg., I, 5), é a interpretação comumente dada pelos Padres e teólogos; e cita para este efeito:


Santo Ambrósio (comentário ao texto, e Sermo xx in Ps. cxvii),
São Jerônimo, (Comentário sobre Amós, c. iv),
Santo Agostinho (Comentários ao Salmo 37),
São Gregório (Dial., IV, xxxix), e
Orígenes (Homilia VI sobre o Êxodo).
Veja-se também São Tomás, "Contra Gentes", IV, 91. Para uma discussão do problema exegético, ver Atzberger, "Die christliche Eschatologie", p. 275.


Tradição

Esta doutrina de que vários dos que morreram estão ainda num lugar de purificação e que orações são úteis para ajudar os mortos é parte da mais antiga tradição Cristã. Tertuliano, no "De corona militis", menciona orações pelos mortos como um mandato Apostólico, e no "De Monogamia" (capítulo 10) ele aconselha a viúva a "rezar pela alma de seu marido, pedindo repouso para ele e participação na primeira ressurreição"; ele manda também que ela "faça oferendas por ele no aniversário de seu falecimento", e culpa-a de infidelidade se ela for negligente em socorrer sua alma. Este costume estabelecido na Igreja é claro em São Cipriano, que (P.L. IV, col. 399) proibiu as costumeiras orações por aquele que violou a lei eclesiástica. "Nossos predecessores prudentemente advertiram que nenhum irmão, partindo desta vida, pode nomear um clérigo como seu executor [testamentário] (pois este ofício não podia ser recusado no Direito Romano); e se ele o fizer, nenhuma oferenda deverá ser feita por ele, nem o sacrifício oferecido pelo seu repouso".

Muito antes de Cipriano, Clemente de Alexandria enveredou pela questão do estado ou condição do homem que, reconciliado com Deus no leito de morte, não teve tempo para cumprir a penitência devida à sua transgressão. Sua resposta é: "o fiel, pela disciplina, despoja-se de suas paixões e passa para a mansão que é melhor que a primeira, ou seja, passa para o maior tormento, exercitando o arrependimento pelas faltas cometidas depois do batismo. Ele, então, é torturado ainda mais, não tendo alcançado o que vê outros terem conseguido. Os maiores tormentos, de fato, são indicados ao fiel. Pois a justiça de Deus é boa, e sua bondade é justa. Embora essas penas cessem no curso da expiação e purificação de cada um, ainda que..." etc. (P.G. IX, col. 332).


Em Orígenes a doutrina do Purgatório é muito clara. Se um homem parte desta vida com faltas leves, ele é condenado a um fogo que queima o material leve, e prepara a alma para o reino de Deus, onde nada sujo pode entrar. "Pois se no fundamento de Cristo tu construíste não só ouro e prata e pedras preciosas (1Cor 3), mas também madeira, feno e capim, o que esperas quando a alma tiver de se separar do corpo? Entrarias no céu com tua madeira, feno e capim e assim sujarias o reino de Deus, ou por causa destes impedimentos ficarias de fora e recompensa nenhuma terias pelo teu ouro, prata e pedras preciosas? Nada disso é justo. Resta, pois, que serás entregue a um fogo que queima o material leve, pois nosso Deus, para os que compreendem as coisas celestes, é chamado de fogo purificador. Mas este fogo não consome a criatura, mas a obra dela, a madeira, o feno e a grama. Está claro que o fogo destrói a madeira de nossas transgressões e nos entrega a recompensa de nossas grandes obras" (P.G., XIII, col. 445, 448).


A prática apostólica de se rezar pelos mortos, que passou para a Liturgia da Igreja, é tão clara no séc. IV como no XX. São Cirilo de Jerusalém (Catequeses Mistagógicas V.9) descrevendo a liturgia, escreve: "Depois ainda rezamos pelos santos padres, bispos adormecidos e, enfim, por todos os que partiram em comunhão conosco, persuadidos de que será de máximo proveito para as almas, pelas quais a súplica é elevada enquanto repousa a santa e tremenda vítima no altar". São Gregório de Nissa (P.G., XLVI, col. 524, 525) afirma que a fraqueza do homem é purgada nesta vida pela oração e pela sabedoria, ou expiada na próxima por um fogo purificador. "Quando ele deixar o corpo e for conhecida a diferença entre o vício e a virtude, ele não poderá aproximar-se de Deus até que o fogo purificador tenha limpado todas as manchas com que sua alma se infestou. Este mesmo fogo em outros cancelará a corrupção da matéria e a propensão ao mal". Pelo mesmo período as Constituições Apostólicas nos dão os formulários usados para socorrer os mortos. "Oremos por nosso irmão que adormeceu em Cristo, para que Deus, que em seu amor pelos homens recebeu a alma deste falecido, perdoe-lhe toda falta, e em misericórdia e clemência o receba no seio de Abraão, com os que nesta vida agradaram a Deus" (P.G. I, col. 1144). Nem podemos passar por cima do uso dos dípticos onde os nomes dos mortos eram inscritos; e sua recordação pelo nome nos Sagrados Mistérios (uma prática vinda dos Apóstolos) era considerada por Crisóstomo como a melhor forma de socorrer os mortos (Homilia 41 na Primeira Carta aos Coríntios, n. 8).


O ensinamento dos Padres e os formulários usados na Liturgia da Igreja, encontram expressão nos antigos monumentos Cristãos, particularmente naqueles contidos nas catacumbas. Nas tumbas dos fiéis eram inscritas palavras de esperança, pedidos por paz e descanso; e os aniversários traziam os fiéis ao redor dos túmulos dos falecidos para fazerem intercessão pelos que os precederam. Na realidade isto não é nada mais que a fé expressada no Concílio de Trento (Sess. XXV, "De Purgatorio"), e para esta fé as inscrições nas catacumbas são, sem dúvida, testemunhas.


No séc. IV no Ocidente, Ambrósio insiste, no seu comentário a São Paulo (1Cor 3), na existência do purgatório, e em seu magistral discurso funeral (De obitu Theodosii), assim reza pela alma do imperador falecido: "Dai, ó Senhor, descanso ao vosso servo Teodósio, aquele descanso que preparastes para os vossos santos... Eu o amei, por isso o seguirei para a terra dos vivos; não o deixarei até que minhas orações e lamentos façam com que seja admitido no monte santo do Senhor, para onde é chamado" (P.L., XVI, col. 1397). Santo Agostinho é ainda mais claro que seu mestre. Ele descreve duas condições dos homens: "alguns lá estão que partiram desta vida não tão ruins para que fossem julgados indignos de misericórdia, nem tão bons para estarem habilitados à felicidade imediata" etc., e na ressurreição ele diz que haverão alguns que "terão passado por estas dores, às quais estão susctíveis os espíritos dos mortos" (Cidade de Deus XXI.24). E assim, pelo fim do séc. IV:


- não só havia orações pelos mortos em todas as liturgias, como os Padres afirmaram que tais práticas vieram dos próprios Apóstolos;

- os que eram auxiliados pelas orações dos fiéis e pela celebração dos Sagrados Mistérios estavam num lugar de purgação;

- de onde, quando purificados, "eram admitidos no Monte Santo do Senhor".



Tão clara é esta Tradição patrística que aqueles que não acreditam no purgatório foram incapazes de mostrar qualquer séria dificuldade dos escritos dos Padres. As passagens citadas como contrárias ou não tocam a questão como um todo ou não são tão claras, de modo que não se equiparam à expressão perfeitamente aberta da doutrina como encontrada na maioria dos Padres que são citados como de opiniões contrárias (Belarmino "De Purg.", lib. I, cap. xiii).


DURAÇÃO E NATUREZA


Duração

A maioria das razões indicadas para a existência do purgatório apontam seu caráter passageiro. Nós rezamos, oferecemos sacrifícios pelas almas aí detidas a fim de que "Deus na misericórdia perdoe toda falta e as receba no seio de Abraão" (Constituições Apostólicas); e Agostinho (Cidade de Deus XXI.13, 16) declara que a pena do purgatório é temporária e será, no mínimo, com o Juízo Final. "Penas temporárias são sofridas por alguns nesta vida apenas, por outros após a morte, por outros tanto agora como depois; mas todos eles antes do último e mais rigoroso juízo".


Natureza da pena

É evidente, pelas Liturgias e pelos Padres acima citados, que as almas por quem se ofereceu o sacrifício pacífico foram impedidas da visão de Deus por um tempo. Elas não estavam "tão boas para estarem habilitadas à felicidade imediata". Para elas, ainda, a morte "não é o salário da natureza, mas do pecado" (Ambrósio, "De obitu Theodos."); e esta incapacidade para o pecado torna-as seguras de sua felicidade final. Este é o posicionamento Católico proclamado por Leão X na Bula "Exurge Domine", que condenou os erros de Lutero.


As almas detidas no purgatório estão cientes de que sua felicidade está apenas prorrogada, ou ainda têm dúvida sobre sua salvação? As antigas Liturgias e inscrições nas catacumbas falam de um "sono de paz", o que seria impossível se houvesse qualquer dúvida acerca da salvação definitiva. Alguns dos Doutores da Idade Média pensavam que a incerteza da salvação era uma das severas penas do purgatório. (Belarmino, "De Purgat." lib. II, cap. iv); mas esta opinião em geral não tem nenhum crédito entre os teólogos da era medieval, nem é possível à luz da crença no juízo particular. São Boaventura dá como razão de se eliminar este medo e esta incerteza, a convicção de que elas não podem mais pecar (lib. IV, dist. xx, p.1, a.1 q. iv): "Est evacuatio timoris propter confirmationem liberi arbitrii, qua deinceps scit se peccare non posse" (O temor é lançado fora por causa do revigoramento do livre arbítrio pelo qual a alma sabe que não pode mais pecar), e São Tomás (dist. xxi, q. i, a.1) diz: "nisi scirent se esse liberandas suffragia non peterent" (se não soubessem que haveriam de ser libertadas, não pediriam sufrágios).


Mérito

Na Bula "Exurge Domine", Leão X condena a proposição (n. 38) "Nec probatum est ullis aut rationibus aut scripturis ipsas esse extra statum merendi aut augendae caritatis" (Não se prova em lugar algum pela razão ou pela Escritura que elas [as almas no purgatório] não possam ganhar méritos ou crescer na caridade). Para elas "chegou a noite, em que o homem não pode mais trabalhar", e a tradição Cristã sempre considerou que somente nesta vida o homem pode trabalhar pelo bem de sua alma. Os Doutores da Idade Média, enquanto aceitando que esta vida é o momento para o mérito e o aumento da graça, ainda alguns com São Tomás pareceram questionar se há ou não uma recompensa não essencial que as almas no purgatório possam merecer (IV, dist. xxi, q. i, a. 3). Belarmino acredita que nesta matéria São Tomás mudou sua opinião, e faz referência a uma afirmação de São Tomás ("De Malo", q. vii, a. 11).

Seja qual for o pensamento do Doutor Angélico, os teólogos aceitam que nenhum mérito é possível no purgatório, e se surgir a objeção de que as almas ganham mérito lá pelas suas orações, Belarmino diz que tais orações são úteis por casa de méritos já adquiridos: "Solum impetrant ex meritis praeteritis quomodo nunc sancti orando pro nobis impetrant licet non merendo" (Elas rezam pelos méritos adquiridos, como os que agora são santos e que rezam por nós, mesmo sem ganhar méritos). (loc. cit. II, cap. iii).


Fogo purificador


No Concílio de Florença, Bessarion argumentou contra a existência de um fogo purgatorial real, e os Gregos estavam seguros de que a Igreja romana nunca tinha emitido nenhum decreto dogmático neste assunto. No Ocidente a crença na existência de um fogo real é comum. Agostinho (Comentários ao Salmo 37, n. 3) fala da dor que o fogo purgatorial causa no homem, mais aguda que qualquer outra coisa que o homem possa padecer nesta vida, "gravior erit ignis quam quidquid potest homo pati in hac vita" (P.L., col. 397). Gregório Magno fala daqueles que depois da vida "expiarão suas faltas por chamas purgatoriais", e acrescenta "ser a dor mais intolerável que qualquer outra sofrível nesta vida" (Ps. 3 poenit., n. 1).


Seguindo os passos de São Gregório, São Tomás ensina (IV, dist. xxi, q. i, a.1) que junto da separação da alma da vista de Deus, há a outra pena, pelo fogo. "Una poena damni, in quantum scilicet retardantur a divina visione; alia sensus secundum quod ab igne punientur", e São Boaventura não só concorda com São Tomás, como acrescenta (IV, dist. xx, p.1, a.1, q. ii) que esta pena pelo fogo é mais severa que qualquer pena que possa ser dada pelos homens nesta vida; "Gravior est omni temporali poena, quam modo sustinet anima carni conjuncta". Como este fogo afeta as almas dos falecidos os Doutores não sabem, e em tais matérias vale a exortação do Concílio de Trento que manda serem "excluídas das pregações populares à gente simples as questões difíceis e sutis e as que não edificam nem aumentam a piedade" (Sess. XXV, "De Purgatorio").



SOCORRENDO OS FALECIDOS


A Escritura e os Padres mandam orações e ofertas pelos falecidos, e o Concílio de Trento (Sess. XXV, "De Purgatorio") em virtude desta tradição não só afirma a existência do purgatório, como acrescenta "que as almas que nele estão detidas são aliviadas pelos sufrágios dos fiéis, principalmente pelo sacrifício do altar".

Que aqueles que estão na terra ainda estão em comunhão com as almas do purgatório é o ensinamento mais antigo dos Cristãos, e que os vivos ajudam os mortos por suas orações e obras de satisfação é evidente pela tradição acima mencionada. Que o Santo Sacrifício tenha sido oferecido pelos falecidos é Tradição Católica recebida já nos dias de Tertuliano e Cipriano, e que as almas dos mortos são ajudadas sobretudo "quando repousa a vítima sagrada sobre o altar" é a expressão de Cirilo de Jerusalém, citada acima. Agostinho (Serm. clxii, n. 2) diz que as "orações e esmolas dos fiéis, o Santo Sacrifício do altar ajudam os fiéis falecidos e move o Senhor a tratá-los em misericórdia e bondade" e, acrescenta, "esta é a prática da Igreja universal herdada dos Padres". Se nossas obras de satisfação realizadas em favor dos mortos são aceitas simplesmente pela benevolência e misericórdia de Deus, ou se Deus se obriga em justiça a aceitar nossa reparação no lugar delas, não é uma questão respondida. Francisco Suárez pensa que a aceitação é pela justiça, e alega a prática comum da Igreja que reúne os vivos e mortos sem discriminação (De poenit., disp. xlviii, 6, n. 4).



INDULGÊNCIAS

O Concílio de Trento (Sess. XXV) definiu que as indulgências são "muito salutares para o povo Cristão" e que "se deve manter o seu uso na Igreja". É o ensinamento comum dos teólogos Católicos que:

1. indulgências são aplicáveis às almas do purgatório; e
2. indulgências estão disponíveis para elas "em forma de sufrágio" (per modum suffragii).



(1) Agostinho (Cidade de Deus XX.9) declara que as almas dos fiéis falecidos não estão separadas da Igreja, que é o Reino de Cristo, e por esta razão as orações e obras dos vivos são úteis aos mortos. "Se então", argumenta Belarmino (De indulgentiis, xiv) "podemos oferecer nossas orações e satisfações em favor das almas do purgatório, por sermos membros do grande corpo de Cristo, porque não pode o Vigário de Cristo aplicar a essas almas a satisfação superabundante de Cristo e seus santos, da qual ele é dispenseiro?" Esta é a doutrina de São Tomás (IV, Sent., dist. xlv, q. ii, a. 3, q. 2) que afirma que as indulgências aproveitam principalmente para aquele que realiza a obra indulgenciada, e ao menos em segundo plano pode aproveitar para os mortos, se a forma em que a indulgência é dada estiver expressa de tal modo que possibilite esta interpretação, e ele acrescenta "nem há qualquer razão pela qual a Igreja não possa dispor de seu tesouro de méritos em favor dos mortos, como certamente se faz em favor dos vivos".


(2) São Boaventura (IV, Sent., dist. xx, p. 2, q. v) concorda com São Tomás, mas acrescenta que tal "remissão não se faz a modo de absolvição, como no caso dos vivos, mas como sufrágio" (Haec non tenet modum judicii, sed potius suffragii). Esta opinião de São Boaventura, de que a Igreja através do seu Supremo Pastor não absolve juridicamente as almas do purgatório da pena devida pelos seus pecados, é o ensinamento dos Doutores. Eles apontam (Gratian, 24 q. ii, 2, can.1) que no caso daqueles que partiram desta vida, o julgamento é reservado a Deus; eles alegam a autoridade de Gelásio (Ep. ad Fausturn; Ep. ad. Episcopos Dardaniae) como apoio a seu argumento (Gratian ibid.), e também insistem que os Romanos Pontífices, quando concedem indulgências aplicáveis aos mortos, acrescentam a restrição "per modum suffragii et deprecationis". Esta frase é encontrada na Bula de Sisto IV "Romani Pontificis provida diligentia", 27 de Nov. de 1447.


A frase "per modum suffragi et deprecationis" tem sido interpretada de várias formas pelos teólogos (Belarmino, "De indulgentiis", p.137). O próprio Belarmino diz: "A verdadeira opinião é de que indulgências aroveitam como sufrágio, pois não aproveitam ao modo de absolvição jurídica 'quia non prosunt per modum juridicae absolutionis'." Mas de acordo com o mesmo autor, os sufrágios dos fiéis aproveitam às vezes "per modum meriti congrui" (por meio de mérito), às vezes "per modum impetrationis" (por meio de súplica), às vezes "per modum satisfactionis" (por meio de satisfação); mas quando se trata de aplicar uma indulgência a alguém no purgatório, sempre é "per modum suffragii satisfactorii" e por esta razão "o papa não absolve a alma no purgatório das penas devidas pelos seus pecados, mas oferece a Deus, do tesouro da Igreja, tudo o que seja necessário para o cancelamento de sua pena".



Se a questão for refeita indagando se tal satisfação é aceita por Deus por misericórdia e benevolência, ou "ex justitia", os teólogos não estão de acordo — alguns sustentam uma opinião e outros, a outras. Belarmino, depois de investigar os dois lados (pp. 137, 138), não se atreve a deixar nenhuma de lado, mas está inclinado a pensar que a primeira é mais razoável enquanto diz que a última está em harmonia com a piedade ("admodum pia").



Condições

Para que uma indulgência aproveite para os que estão no purgatório, várias condições são necessárias:


A indulgência deve ser estabelecida pelo papa.
Deve haver razão suficiente para se dar a indulgência, e esta razão deve ser algo referente à glória de Deus e o bem da Igreja, não meramente o proveito que resulta às almas no purgatório.
A obra piedosa deve ser como no caso das indulgências para os vivos.


Se o estado de graça não estiver entre os requisitos, em todo caso a pessoa pode lucrar a indulgência para os falecidos, ainda que ele não esteja na amizade com Deus (Belarmino, loc. cit., p. 139). Francisco Suárez (De Poenit., disp. Iiii, s. 4, n. 5 and 6) deixa isso bem claro quando diz: "Status gratiæ solum requiritur ad tollendum obicem indulgentiæ" (o estado de graça só se requer para remover algum impedimento da alma), e no caso das santas almas não pode haver impedimento. Este ensinamento está ligado à doutrina da Comunhão dos Santos, e os monumentos das catacumbas representam os santos e mártires como que intercedendo a Deus pelos mortos. Também as orações das antigas liturgias falam de Maria e dos santos intercedendo pelos que passaram desta vida. Agostinho acredita que um enterro numa basílica cujo titular seja um santo mártir é de valor para o falecido, pois os que ali celebram a memória daquele que sofrem, recomendarão orações ao mártir por aquele que passou desta vida (Belarmino, lib. II, xv). No mesmo lugar Belarmino acusa Dominicus A Soto de imprudência, porque ele negou esta doutrina.


INVOCAÇÃO DAS ALMAS

As almas do purgatório rezam por nós? Podemos chamá-las em nossas necessidades? Não há definição ou decisão da Igreja neste assunto e nem os teólogos se pronunciaram definitivamente no que diz respeito à invocação das almas do purgatório e sua intercessão pelos vivos. Nas antigas liturgias não há orações da Igreja dirigida aos que estão ainda no purgatório. Nas tumbas dos primeiros cristãos nada é tão comum quanto uma oração ou súplica pedindo ao falecido para intercer a Deus pelos amigos vivos, mas estas inscrições parecem supor que o falecido já está com Deus.

São Tomás (II-II.83.11) nega que as almas do purgatório rezam pelos vivos, e afirma que eles não estão em condição de rezar por nós, antes nós é que devemos interceder por eles. Não obstante a autoridade de São Tomás, muitos teólogos renomados sustentam que as almas do purgatório rezam por nós e que devemos invocar seu auxílio.

Belarmino (De Purgatorio, lib. II, xv,) diz que a razão alegada por São Tomás não é de todo convincente e sustenta que, em virtude de seu amor de Deus e sua união com ele, suas orações devem ter um grande poder de intercessão, pois elas são deveras superiores a nós no amor de Deus e na intimidade da união com ele. Francisco Suárez (De poenit., disp. xlvii, s. 2, n. 9) vai além e afirma "que as almas do purgatório são santas, queridas a Deus, amam-nos com um verdadeiro amor e são cientes de nossos desejos; pois elas sabem, de um modo geral, quais são nossas necessidades e perigos, e quão grande é nossa necessidade do auxílio e da graça divinos".


Quando há a questão de invocar as orações dos que estão no purgatório, Belarmino (loc. cit.) diz que isto é supérfluo, ordinariamente falando, pois elas são ignorantes de nossas circunstâncias e condições. Isto está em desacordo com a opinião de Francisco Suárez, que admite conhecimento, pelo menos de um modo geral, e também com a opinião de muitos teólogos atuais que apontam para a prática hoje comum de quase todos os fiéis dirigirem suas orações e pedidos de ajuda para aqueles que ainda estão no lugar da purificação. Scavini (Theol. Moral., XI, n. 174) não vê razões pelas quais as almas do purgatório não possam rezar por nós, da mesma forma como rezamos uns pelos outros.


Ele afirma que esta prática tornou-se comum em Roma, e teve o grande nome de Santo Afonso em seu favor. Santo Afonso, em sua obra "Grandes Meios de Salvação", cap. I, III, 2, depois de citar Sylvius, Gotti, Lessius, e Medina como favoráveis à sua opinião, conclui: "então, as almas do purgatório, sendo amadas por Deus e confirmadas na graça, não têm absolutamente qualquer impedimento para rezarem por nós. Ainda que a Igreja não as invoque ou implore sua intercessão, porque normalmente elas não têm conhecimento de nossas orações. Mas podemos acreditar piamente que Deus torna nossa orações conhecidas a elas". Ele também alega a autoridade de Santa Catarina de Bolonha, a qual "sempre que desejou algum favor, recorreu às almas do purgatório e foi imediatamente ouvida".



UTILIDADE DA ORAÇÃO PELOS FALECIDOS

É da fé tradicional dos Católicos que as almas do purgatório não estão separadas da Igreja, e que a caridade, que é o laço de união entre os membros da Igreja, abraça estes que partiram desta vida na graça de Deus. Assim, uma vez que as nossas orações e nossos sacrifícios podem ajudar aqueles que ainda estão à espera no purgatório, os santos não hesitaram em nos avisar que temos um verdadeiro dever para com aqueles que ainda estão na expiação purificatória. A Santa Igreja, pela Congregação das Indulgências, em 18 de dezembro de 1885, concedeu uma bênção especial ao chamado "ato heróico", pelo qual "um membro da Igreja Militante oferece a Deus, pelas almas do purgatório, todas as obras satisfatórias que ele realizará durante sua vida e também os sofrimentos que poderá passar depois da morte [no purgatório]" (Heroic Act, vol. VII, 292).


A prática de devoção aos falecidos é também consoladora para a humanidade e eminentemente digna de uma religião que dá auxílio aos mais puros sentimentos do coração humano. "Doce", disse o Cardeal Wiseman (lecture XI), "é a consolação de um homem morto que, ciente de sua imperfeição, acredita que há outros que intercederão por ele, quando já não há espaço para seus próprios méritos; confortador para os que vivem e se afligem é o pensamento de que eles possuem meios poderosos para livrar seus amigos. No primeiro momento de luto, este sentimento normalmente ultrapassará o preconceito religioso, curvará o descrente sobre seus joelhos ao lado do corpo de seu amigo e lhe roubará uma inconsciente prece por repouso; este é um impulso da natureza que, pelo momento, ajudada por analogias da verdade revelada, toma posse desta crença consoladora. Mas isso é só uma luz melancólica e passageira, enquanto o sentimento Católico, de torcer [pelo falecido] mesmo com um luto solene, assemelha-se a uma lâmpada inextinguível, a qual se diz que a piedade dos antigos pendurou diante dos sepulcros de seus mortos".


Fonte: Hanna, Edward. "Purgatory." The Catholic Encyclopedia. Vol. 12. New York: Robert Appleton Company, 1911. 6 Nov. 2010 http://www.newadvent.org/cathen/12575a.htm.