Causa III – Segunda Parte
Suplicas dos defuntos
Atendendo
quão apertadamente nos rogam desde aqueles incêndios, as benditas almas, diz
Santo Agostinho estas palavras: Cada dia dão vozes desde aqueles tormentos, e
apenas se acha quem as responda dão tristes lamentos, e não há quem as console;
Ó quão grande é a vossa crueldade caríssimos irmãos, que chega a ser desumano!
Cada dia está clamando aquelas afligidas almas que por nós padeceram grandes
trabalhos e não as escutamos, ó que grande é a vossa insensibilidade! Geme o
enfermo em uma cama e o medico o consola, grunhi o animal e logo o socorre, cai
o jumento no lodo e todos se levantam, e dão vozes as santas almas em seus
tormentos e não há quem as escute, que maior desumanidade, insensibilidade que
esta? Até aqui o santo: Agora, pois se estas chegarem a seus pés, com lágrimas
penetrantes daquele ardente fogo, se visses a seus pais chamando-te, por seu
próprio nome, e te dissessem: Olhe filho, que fogo nos abrasa, apague com os
teus sufrágios. Pois bem, não há necessidade que ouças seus clamores, nem
escutes suas lamentações, que por outra parte tens tantos despertadores de sua
piedade, e se não houvesse outras línguas que te dissessem, aí estão às línguas
das campanhas que clamam por seu socorro e dizem substitutas dos defuntos:
Compadecei-vos de nós, sequer os que foram nossos amigos e parentes, porque a
mão do Senhor nos tocou terrivelmente, não sejas tu tão cruel como aqueles
avarentos que por não dar uma esmola ao pobre, respondem à seus clamores ‘Irmão
Deus te ajude’ e quando te faltasse o socorro do dinheiro, não te possa faltar
socorro da oração, jejum, e penitência e merecias que ao que negaste a esmola,
chegando tu a suas portas te pagasse com a mesma moeda respondendo: Te ajude
Deus como tu me ajudaste a mim.
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