Os
devotos da Santíssima Mãe são muito felizes, porque não somente Ela
os ajuda quando estão em vida, mas são assistidos e consolados pela Sua
proteção também no Purgatório. Naquele lugar as almas não podem
ajudar-se sozinhas e precisam ainda mais de alívio, porque são mais
atormentadas, por isto a Mãe de Misericórdia se empenha muito mais a socorre-las de quando estavam na terra.
A
Mãe Divina disse a Santa Brigida: eu sou a Mãe de todas as almas que se
encontram no Purgatório e intervenho continuamente com as minhas
orações para diminuir as penas que merecem pelas culpas cometidas
durante a vida delas. As vezes a piedosa Mãe nem nega de entrar naquela
santa prisão para visitar e consolar as Suas filhas aflitas. Nos
Provérbios está escrito: "Passei nas profundidades dos abismos". São
Boaventura atribui este pensamento a Maria e explica: "Eu penetrei no
fundo daquele abismo, isto é, o Purgatório, para aliviar com a Minha
presença, aquelas almas santas". Diz São Vicente Ferreri: "A Madona é
tão cortez e boa com quem sofre no Purgatório e intervém continuamente
doando a elas conforto e alivio!".
Um
dia, Santa Brigida ouviu Jesus dizer à Mãe: "Tu és Minha Mãe, és a Mãe
da Misericórdia, és a consolação daqueles que se encontram no
Purgatório". A Beata Virgem disse a Santa Brigida que como um pobre
doente, abandonado e aflito, com algumas palavras de conforto se sentem
reviver, assim as almas se consolam também somente em ouvir o nome da
Madona.
Maria
não somente consola e ajuda os seus devotos do Purgatório mas com a Sua
intercessão obtém a liberdade para eles. Escreveu Gerson e o confirma
Novarino dizendo de ter lido nas obras dos Autores importantes que
Maria no momento da Sua gloriosa Assunção pediu ao Filho a graça de
poder conduzir com Si todas as almas que naquele momento se encontravam
no Purgatório. São Benardino de Siena confirma com absoluta certeza que a
Beata Virgem tem a faculdade, através da oração e aplicando também os
Seus méritos, de liberar as almas do Purgatório e particularmente os
Seus devotos.
Refere
São Pedro Damião que uma mulher de nome Marzia, morta já da algum
tempo, apareceu a uma sua amiga e lhe disse que o dia da Assunção de
Maria tinha sido liberada do Purgatório da Rainha do Céu junto a tantas
outras almas. O mesmo confirma São Dionísio Cartusiano pela festividade
do Nascimento e da Ressurreição de Jesus Cristo. O Santo afirma que em
tais dias Maria desce no Purgatório acompanhada da fila de Anjos e
libera muitas almas daquelas penas. Novarino pensa que isto aconteça
em qualquer festa solene da Santa Virgem.
É conhecida a promessa de Maria ao Papa João XXII. Em uma aparição lhe
ordenou de fazer conhecer a todos que aqueles que tivessem levado o
sagrado escapulário do Carmo, teriam sidos liberados do Purgatório o
sábado depois da morte deles. Refere padre Crasset que o Pontífice o
declarou e depois foi confirmado por Alessandro V, por Clemente VII, Pio
V, Gregorio XIII e Paolo V.
A
Beata Virgem encarregou frei Abbondo de levar uma mensagem da Sua parte
ao Beato Godofredo: "Diga a frei Godofredo que progrida nas virtudes,
assim pertencerá ao Meu Filho e a Mim. Quando a sua alma deixará o
corpo, não permitirei que vai em Purgatório, mas a pegarei e a oferecerei a
Jesus". Se desejamos ajudar as almas santas do Purgatório, oremos
sempre a Santa Virgem por elas e em particular com o Santo Rosário que
lhes propicia um grande alivio.
terça-feira, 31 de dezembro de 2019
segunda-feira, 30 de dezembro de 2019
Os Méritos da Caridade para o alívio e libertação das santas almas sofredoras do purgatório
São João Crisóstomo aconselhava, numa exortação, uma maneira de aliviar o sofrimento da saudade dos mortos, de um filho querido que a morte arrebatou, de um ente, enfim, que vimos partir para a eternidade, deixando-nos saudosos. Diz o Santo Doutor: “Perdeste um filho querido e não sabeis o que fazer para testemunhar a vossa dor. Quereis ser útil ainda ao vosso filho? Nada mais simples. Assiste a um coerdeiro pobre. Tomai um pobre para socorrer. Dai aos pobres o que desejaríeis dar ao morto querido que chorais. Não tereis perdido o herdeiro do céu e arranjareis um coerdeiro na terra, que é o pobre. Em vez de uns miseráveis bens temporais que havíeis de deixar para um filho, lhe dareis a herança da posse de Deus no céu nos bens eternos. Eis como podeis socorrer vossos entes queridos muito mais do que se estivessem neste mundo”.
Ordena a admirável e santa Regra de São Bento que quando morra um monge, durante trinta dias se ofereçam por sua alma o Santo Sacrifício e a ração de alimento que lhe pertencia seja dada aos pobres.
Que bela tradição! Sejamos caridosos para com os pobres da terra o apliquemos o mérito desta caridade para o alívio e libertação das santas almas sofredoras do purgatório. Pratiquemos a dupla caridade.
domingo, 29 de dezembro de 2019
Ai! Como são esquecidos os mortos!
Quem se lembrará de nós alguns anos após a nossa morte? Talvez uma lembrança vaga, uma evocação de saudade muito apagada. E como somos orgulhosos hoje! Tanto nos fere a mágoa um esquecimento mesmo involuntário! Felizes os que se desiludem e se desapegam das amizades e vanglorias da terra antes que chegue a Mestra e Doutora da Vida — a Morte!
Como se compadecem todos dos enfermos! Que carinho e solicitude e mil sacrifícios em torno do leito de um pobre doente que geme! Porém, veio a morte. Pranto, homenagens sentidas, flores, túmulos, necrológios, e... esquecimento. Hoje afastam a idéia da morte como se fôssemos todos imortais. É mister esquecer os defuntos, deixá-los no túmulo, evitar esta preocupação doentia da morte e da eternidade.
Morreu, acabou-se! Vamos rir, vamos dançar e cantar. Deixemos que a vida corra alegre e feliz. Não pensemos mais na morte e muito menos em mortos. Não é assim que fala e age o mundo louco e materialista de hoje?
Ai! Como são esquecidos os mortos! O materialismo estúpido não compreende nem a beleza, nem a consolação, e o culto da memória dos mortos como o tem a Igreja católica. Para nós, eles não morreram, mudou-se-lhes a condição da vida: Vita mutatur, non tollitur!
sábado, 28 de dezembro de 2019
Santa Margarida Maria e as três Almas do Purgatório

— Senhor, escolhei Vós mesmo, segundo o que for para vossa maior glória.
Então Nosso Senhor escolheu a pessoa secular, dizendo que as religiosas tiveram nesta vida muito mais graças e meios para expiar os pecados pela observância da Regra, e que o secular não havia recebido tantos privilégios e favores... Os ignorantes, os pobrezinhos, os humildes cheios de boa vontade e que não receberam de Deus tantas graças e meios de se santificar como as almas consagradas a Deus, terão naturalmente muita escusa no Tribunal divino e bem aliviado lhes será o purgatório pela divina misericórdia.
Os religiosos meditem como em diversas aparições particulares Nosso Senhor revela quanto pune na outra vida a falta de observância da Santa Regra e como esta Santa Regra facilita a expiação da pena temporal neste mundo e abrevia, senão livra a alma consagrada do purgatório. A observância regular é um meio poderoso de santificação, uma grande penitência que enche a alma deméritos.
Por um pouco de sacrifício de quantas penas não se livram na outra vida os religiosos fiéis à santa Regra. E como devem tremer as almas consagradas ao pensarem nas contas mais rigorosas que hão de dar a Deus pelo número tão grande de graças escolhidas que receberam e às quais talvez não tenham correspondido."
sexta-feira, 27 de dezembro de 2019
Consolações do Purgatório
Então há no purgatório alegrias e consolações? É possível que em meio de tanta dor, de tão horríveis suplícios como os da pena do dano e do fogo, haja ainda um raio de luz, uma alegria, uma consolação para as pobres almas?
Sim, porque o purgatório é a pátria da justiça rigorosa, mas o é também da infinita misericórdia de Deus. Já não é uma grande misericórdia Deus nos reservar um lugar de expiação além-túmulo? Purificar-nos misericordiosamente para nos tornarmos dignos de sua eterna Presença? Ó, sim, o purgatório é uma misericórdia de Nosso Senhor. E como todas as obras da divina misericórdia, há de ter a unção e a doçura da Eterna Bondade. Quanto nos apavora a Justiça divina naquelas chamas expiadoras e que terror para nossa alma saber o que nos espera depois desta vida! Todavia, console-nos a idéia de que há no purgatório consolações que excedem a todas que possamos ter nesta vida. É um tormento e uma felicidade sem par. Um mistério que nos será desvendado mais tarde. Alguns autores insistem muito no sofrimento do purgatório e nada falam das alegrias e consolações. É mister guardar um justo equilíbrio.
Nem transformar o purgatório num verdadeiro inferno, nem fazer dele o paraíso. É um lugar de expiação e de tormentos horríveis, não há dúvida, mas há nele a doce esperança da salvação, esperança acompanhada da certeza absoluta de um dia chegar à posse de Deus na Bem-aventurança. E isto não é uma felicidade sem par? Quando São Francisco de Assis soube que era um predestinado e viu garantida por revelação do céu a sua glória, teve uma alegria tão grande, que nenhuma linguagem humana o poderia traduzir. Que não será a alegria das pobres almas na certeza de serem predestinadas?
São Francisco de Sales, cuja doutrina é um bálsamo suavizante das almas, fala das alegrias e consolações do purgatório. Escreve o melífluo Doutor: “A maioria dos que temem o purgatório é muito mais por interesse e amor de si mesmos do que pelo interesse de Deus. E daí vem que falam ordinariamente só das penas daquele lugar e nunca falam da felicidade e da paz que desfrutam as almas que lá estão. É verdade que os tormentos são extremos, e as maiores e mais terríveis dores desta vida não se podem comparar a eles, mas também as satisfações interiores são tais e tantas, que nenhuma prosperidade nem alegria da terra existe que a elas se possam igualar. Si é uma espécie de inferno quanto à dor, é um paraíso quanto à doçura que a caridade difunde no coração. Caridade mais forte do que a morte e mais poderosa do que o inferno. Feliz estado mais desejável que temível, pois suas chamas são chamas de amor e de caridade. Terríveis penas, sim, pois elas retardam a hora da visão de Deus, e de amar a Deus e louvá-lo e glorificá-lo por toda eternidade”[1].
Eis aí o tormento e a alegria das almas do purgatório.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2019
Livramento das Almas do Purgatório

O quarto desejo do Coração de Jesus
é o livramento das almas do Purgatório
Almas queridas de Jesus, almas muito amadas que Ele vê sofrer, e que, em respeito a Sua justiça, ainda não pode livrar!
Estas
almas chamam-nO, desejam-nO, dizem-Lhe a cada instante: “Quando Vos
veremos, Senhor?… E choram menos pelas dores que experimentam que por
se verem separadas de Jesus! Parece-me, dizia uma Santa, estar vendo
Jesus que estende para mim uma das Suas mãos, dizendo-me: “Estas pobres
almas devem-me orações, missas mal ouvidas, mortificações, esmolas que
deveriam ter feito… Satisfazei por elas”.
Sim, Jesus, quero começar hoje mesmo.
“Darei, de tempos a tempos, uma esmola pelas almas do Purgatório”.
Exemplo
Santa
Margarida Maria recomendou, vivamente, em suas instruções, o seguinte:
“À noite, dareis uma voltinha pelo Purgatório, em companhia do Sagrado
Coração, consagrando-Lhe tudo o que houverdes feito, e pedindo que Se
digne aplicar os Seus merecimentos às santas almas que padecem. E ao
mesmo tempo lhes pedireis também, queiram interpor o seu poder para vos
alcançarem a graça de “viver e de morrer no amor e fidelidade ao Sagrado
Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo, correspondendo aos Seus desejos
de [amor]”. Noutro escrito que deixou, lê-se: “Numa noite de
Quinta-feira Santa, tendo eu alcançado licença para passá-la diante do
SS. Sacramento, estive uma parte do tempo como cercada destas almas
pobres: e Nosso Senhor disse-me que me dava a elas todo este ano, para
lhes fazer todo o bem que pudesse.
Desde
então, vem elas ter muitas vezes comigo; e não lhes dou outro nome
senão o de minhas “amigas penadas”. Eu pedia em favor delas sufrágios e
aplicações de Missa dizendo: “Muito mais obrigada vos fico pelo bem que
lhes procurais do que se a mim mesma o fizésseis”. Outras vezes,
regozijava de terem saído livres pelas orações e penitências que por
elas fizera: “Esta manhã, domingo do Bom Pastor, duas das minhas boas
amigas que sofrem, vieram dar-me um adeus; porque hoje o soberano
Pastor as recebia no Seu redil da eternidade, com outras que iam
entoando cânticos de alegria que se não podem explicar”. Estes piedosos
sentimentos de Sta. Margarida Maria se manifestavam também na mesma
época numa Religiosa de alta virtude. Maria Vitória da Encarnação, do
Convento das Clarissas da Bahia, cuja vida foi escrita pelo arcebispo D.
Sebastião Monteiro.
Era
a santa freira fervorosíssima devota dos mistérios da Paixão de Nosso
Senhor e, às sextas-feiras, fazia a via sacra, carregando uma pesada
cruz e levando à cabeça uma coroa de espinhos a disciplinar-se de modo
que o sangue esguichava sobre as paredes ou corria pelo pavimento;
assim, às vezes, a se arrastar de joelhos, ia até o lugar das sepulturas
e se prostrava sobre elas orando.
Tinha
ainda uma particular devoção ao arcanjo São Miguel como o defensor das
almas do Purgatório, para cujo alívio fazia muitos sufrágios e oferecia
todas as obras de humildade que praticava. Por isso, escreve o seu
ilustre biógrafo, elas a procuravam com toda a confiança: indo, uma vez,
altas horas da noite, ao coro fazer oração, ouviu lastimoso gemido de
um defunto que, por chegar tarde à igreja, ficara por enterrar:
cobrando ânimo, perguntou o que queria, e ele respondeu, pedindo
mandasse fazer sufrágios de que muito precisava; satisfez o pedido no
dia imediato, e o defunto, mais tarde, veio agradecer-lhe. Uma noite,
viu a alma de uma sua serva que lhe falava, quando a companheira que
dormia perto, despertando e vendo um clarão em sua cela, ao tempo em que
lhe ouvia a voz, gritou assustada, fazendo acordar toda a comunidade.
Viu,
de outra vez, a alma da religiosa Madre Luzia, que subia ao céu. De uma
feita, acabada a sua oração no coro, retirava-se, mas a cercaram de tal
sorte as almas, que ficou a orar até romper a aurora. Como para mostrar
que não era isso feito de pura imaginação, permitiu Deus que as almas
lhe imprimissem como três dedos de fogo num ombro, e viram-nos várias
Religiosas, a quem disse por graça: “As minhas amigas me cauterizaram;
não quero mais brinquedos”.
Por
outro lado, elas lhe faziam carinhos e a serviam: em noite de excessivo
calor, uma freira que falava à porta da cela, sentiu uma suavíssima
viração e, não podendo explicar, perguntou donde vinha. Madre Vitória
respondeu: “São as minhas amigas que me estão abanando”. — “Oh! que
consolação é a de ver uma alma em salvação. Veio aqui, nestes dias, uma
tão linda e resplandecente, que excedia a luz do sol”. E, valendo-se
delas, conseguiu a muitas pessoas acharem o perdido, saberem de pessoas
ausentes muito longe ou de coisas futuras que se não poderiam conhecer
naturalmente, e curarem-se prestes de moléstias antigas e graves. Madre
Vitória morreu em 1715, numa sexta-feira, às 3 horas da tarde, dando-se,
nesta ocasião e depois, por muitas vezes, fatos extraordinários que
confirmaram a reputação de santidade que já gozava em sua vida, e que
tem uma longa e detida comemoração na Crônica da Ordem Seráfica.
(Excertos do livro: Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913)
terça-feira, 24 de dezembro de 2019
Os santos e as almas mais abandonadas
Muitos Santos tiveram esta devoção. Santa Catarina de Genova, Santa Catarina de Sena, Santo Afonso de Ligório, São Francisco de Sales e principalmente o grande apóstolo da caridade, São Vicente de Paulo. Este grande coração, cuja vida se passou a ajudar os abandonados e infelizes da terra, por este mesmo instinto divino de caridade se voltava para as almas abandonadas e sofredoras do purgatório. Era a sua grande devoção socorrer as almas mais abandonadas.
Uma piedosa serva de Deus, Irmã Maria Denise da Visitação, e que no século se chamava Mme. Martignat, pertencente a família da nobreza, ao invés de encomendar a Nosso Senhor a alma dos pobrezinhos, recomendava a alma dos ricos e dos grandes da terra. Estranharam isto e ela dava as razões: “São às vezes as almas mais abandonadas e as que tem mais necessidade de sufrágios. Passaram uma vida folgada, não fizeram muita penitência e sabe Deus que terrível purgatório não lhes está reservado, se conseguiram se salvar pela Divina Misericórdia”. E tinha razão. Além do mais, depois das pompas fúnebres nas quais entra muita vaidade da família, às vezes segue-se um esquecimento e abandono completo do pobre morto. Oremos muito pelas almas abandonadas, porque elas não deixarão de pedir por nós quando libertadas por nossos sufrágios. Para a Igreja nunca seremos almas abandonadas, é verdade.
A Igreja, nossa Mãe, só ela nunca esquece e cada dia sem cessar, em milhares de altares em toda terra, lembra, ante a Hóstia divina, os mortos. — Memento! Memento! Lembrai-vos, Senhor, daqueles que nos precederam com o sinal da fé e agora descansam no sono da paz. Nós Vos suplicamos, Senhor, dignai- vos concedê-la a estes e a todos que descansam em Jesus Cristo Nosso Senhor.
Que tocante oração! Só para a Igreja os mortos não são esquecidos.
Tanta lágrima, tantas flores, tantos suspiros em alguns dias e meses. Depois... o frio e duro esquecimento. Dura lei! É verdade, não havemos de chorar a vida toda os nossos mortos, e a esperança cristã nos diz, no Prefácio da Missa, dos defuntos que a vida para eles não se acaba, muda-se — Vita mutatur, non tollitur. Eles, os nossos mortos, vivem no seio de Deus. E a maioria deles expia nas chamas do purgatório. É uma verdade terrível e consoladora. E por isto nosso esquecimento é grave e cruel.
Que para nós não haja almas abandonadas! Estejam todas em nossa lembrança e em nossos sufrágios. Depois da morte veremos quanto nos foi proveitosa esta bela devoção e este ato generoso de caridade.
Imitemos os Santos, que acudiam generosamente as almas mais abandonadas.
domingo, 22 de dezembro de 2019
Purgatório - O "Ato Heróico"
Que é o “ato heroico”?
“É
o ato que consiste em oferecer à Divina Majestade, em proveito das
almas do purgatório, todas as obras satisfatórias que fizermos durante a
vida e todos os sufrágios que forem aplicados pela nossa alma depois da
nossa morte”.
Tal é a
definição autêntica deste ato aprovado oficialmente pela Igreja e
indulgenciado. Chama-se heróico, porque realmente exige uma abnegação de
todos os tesouros que possamos lucrar com nossas boas obras e contém
uma renúncia de todos os sufrágios que oferecerem por nossa alma depois
da nossa morte, em favor das almas do purgatório. Este ato há de ser
feito, para ser válido, em perpétuo. É irrevogável na intenção de quem o
faz. Não obriga sob pena de pecado. Se alguém, a quem faltou
generosidade ou teve receio de se privar de sufrágios depois da morte,
quis de novo adquirir para si as suas obras satisfatórias, renunciou ao
voto heróico, não comete pecado nem mortal nem venial.
Pelo
ato heróico não renunciamos o mérito de nossas boas obras, isto é, o
que nos dá nesta vida um acréscimo da graça e a glória no paraíso. Este
merecimento é nosso e não o podemos perder nem dá-lo aos outros. O ato
heróico é uma obra muito meritória, e este mérito de uma obra tão bela e
heroica não o podemos perder. Só o mérito do ato heróico quanto não
vale para nossa alma! Este mérito não o perdemos. Depois desta obra
satisfatória, tudo o mais que fizermos será das almas do purgatório.
Desde que fazemos o ato heróico, todas as indulgências que lucramos são
das almas. Tudo que de bom possamos fazer e ter mérito e lucrar alguma
coisa será do purgatório, direito e propriedade das almas. É uma
renúncia total. Só a indulgência plenária da hora da morte não pode ser
oferecida para as almas e será nossa, porque não é aplicável aos
defuntos.
O ato heróico
não impede de rezar nas próprias intenções e pelos mortos. Quando
fazemos um ato de penitência e de oração, por exemplo, recitando um
terço de joelhos, há neste ato, para falar uma linguagem teológica,
três frutos diferentes: um fruto meritório que não o podemos perder é o
mérito pessoal de quem o pratica — o valor satisfatório do ato que é a
penitência, o sacrifício feito, e este é para as almas é do ato heróico —
e finalmente, uma força impetratória que é da oração como oração. A
oração é uma força e Deus prometeu ouvi-la. O ato heróico não nos impede
utilizar a força impetratória da oração.
Quem
faz o ato heróico é como um religioso que fez o voto de pobreza: tudo o
que ganha não lhe pertence. A diferença é que o voto de pobreza obriga
em consciência e o ato não. O abandono que a alma generosa faz em favor
das almas do purgatório é feito, em geral, por todas e nunca em favor
de uma ou outra alma. O ato heróico não impede que se ore por esta ou
aquela alma em particular e se ofereça a Nosso Senhor muito sufrágio
pelos nossos mortos queridos.
Não pode tudo isto ser feito na oferenda geral que fizermos a Deus?
Origem do ato heróico
O
ato heróico em si, não é uma devoção nova na Igreja, como pretendem
alguns. Em séculos passados, muitos homens de grande santidade e
grandes almas generosas ofereceram a Deus seus tesouros de obras
satisfatórias em favor das pobres almas do purgatório. Santa Gertrudes,
Santa Catarina de Sena, Santa Liduina e muitos outros santos tiveram
esta generosidade. Santa Teresa fez este ato em favor de um mestre
espiritual, o Provincial dos Carmelitas, falecido, e ela libertou-o do
purgatório com suas orações. Todavia, consideramos como fundador e
apóstolo do ato heróico o Pe. Gaspar Olinden, clérigo regular dos
Teatinos. Este sacerdote piedoso tinha uma devoção muito grande pelo
Purgatório e sua grande preocupação e todo seu zelo ardente o empregava
em favor das pobres almas. Lembrou-se deste ato heróico, desta oferenda
generosa a Deus em favor do purgatório e apresentou-o ao Santo Padre
Bento XIII, que não só o aprovou, mas o enriqueceu de indulgências e
privilégios. Depois, todos os Pontífices confirmaram a aprovação e
estimularam e abençoaram tão belo ato.
Bento
XIII, não contente de aprovar o ato heróico, ainda fez publicamente, e
do púlpito, a entrega de todos os seus bens espirituais pelos mortos,
como se pode ver nos sessenta sermões que pregou sobre este assunto.
Naquela
época viram-se Ordens inteiras recomendarem o ato heróico. O Superior
Geral da Companhia de Jesus mandou recomendá-lo a todos os seus súditos.
O Pe. Ribadanera piedoso hagiógrafo propagou muito o ato heróico e o
Pe. Nierenberg. O Pe. de Montroy, no leito de morte, não só deu às almas
o mérito de todas as obras satisfatórias feitas em vida, mas a sua
caridade se estendeu além. Fez um testamento sublime, diz o Pe. Faber
“que não sei de outro igual”: cedeu sem exceção para as almas do
purgatório todos os méritos, orações, Missas, indulgências que a
Companhia de Jesus costuma aplicar aos seus membros defuntos, todos os
sufrágios que seus amigos pudessem oferecer por ele e tudo enfim, pelas
almas.
Há muitos exemplos admiráveis de atos heróicos pelo purgatório.
Finalmente,
nos últimos tempos Nosso Senhor suscitou uma grande alma devotíssima do
purgatório e fundadora de uma Congregação religiosa especialmente
destinada a sufragar as santas almas e entregue toda a serviço do
purgatório num ato heróico de caridade. Foi a Madre Maria da
Providência. Desde pequenina, esta serva de Deus sentia grande
compaixão pelas almas sofredoras. Um dia a encontraram muito pensativa
e grave em meio dos brinquedos da criançada. — Que esta pensando? —
Sabem no que penso? Disse Eugênia (tal era o seu nome no século), eu
penso numa prisão de fogo de onde não se pode sair e da qual com uma
palavra se podem tirar os prisioneiros.
As
companheiras a olharam surpreendidas. “Esta prisão de fogo é o
purgatório e com uma palavra, com a oração, podemos libertar as almas”.
Mais
tarde foi a fundadora de uma Congregação, única na Igreja, cujos
membros se oferecem a Deus pelas almas e vivem o voto heróico.
Eis como se desenvolveu, nos últimos tempos, a bela prática do ato heróico.
Vantagens do ato heróico
Um
ato tão generoso e que nos despoja de tantas riquezas e nos deixa até
sem sufrágios depois da morte, poderá ter vantagens, lucra muito,
porventura, quem o fez? Sim, mil vezes sim! É um engano pensar que se
perde muito com o ato heróico. Ao invés, lucra-se mil vezes mais. Deus
se deixa vencer em generosidade? Não há gratidão nas almas salvas por
tão grande socorro?
O
ato heróico é um ato cheio de mérito, é um ato perfeito que nos faz
esquecer de nós mesmos para cuidar de nossos irmãos e da glória de Deus.
Quem faz o ato heróico aumenta por este ato seu grau de graça neste
mundo e o grau de gloria no outro. E o ato de caridade que pratica, não
há de atrair a misericórdia daquele Senhor que prometeu cem por um e o
reino do céu ao menor bem que se faz neste mundo por amor de Deus? “A
caridade cobre a multidão dos pecados”, diz a Escritura, e este gesto de
caridade heroica não há de obter perdão e descontar muitos pecados de
quem o faz? E a indulgência plenária que se ganha com o ato heróico? E a
indulgência plenária da hora da morte que nos pertence e não podemos
aplicá-la para ninguém? E Nosso Senhor se deixará vencer em
generosidade? Não tenha receio de sair prejudicado quem faz o ato
heróico em favor das almas do purgatório. Este heroísmo de caridade será
recompensado com superabundância de graças neste mundo e de glória no
outro. Não nos preocupemos porque não podemos dispor de nossos tesouros
em favor de nossos mortos queridos como bem entendemos. Nosso Senhor
cuidará deles muito mais, e nossa caridade lhes há de ser um refrigério
tão grande no purgatório e talvez concorra para libertá-los do
purgatório muito mais depressa do que se estivessem dependendo de
nossos pobres sufrágios muita vez até esquecidos.
E para terminar, vejamos as condições e as indulgências do ato heróico:
Para
fazer o ato heróico é mister consultar o diretor espiritual ou um
prudente confessor, procurar conhecer bem o que vai fazer e saber a
responsabilidade que assume. Não se deve fazê-lo levianamente e num
momento de fervor irrefletido. É muito sério e é preciso lembrar que é
heróico! Não é prescrita nenhuma fórmula especial. Poder-se-ia usar uma
como esta: “Para vossa glória, ó meu Deus, e para imitar o melhor
possível o Coração generoso de Jesus, meu Redentor, a fim de mostrar
também minha dedicação para com a Santíssima Virgem Maria, minha Mãe e
Mãe das almas do purgatório, entrego em suas mãos todas as minhas obras
satisfatórias assim como o fruto de todas as que, porventura, se
venham a fazer por minha intenção depois de minha morte, a fim de que
Ela faça a aplicação às almas do purgatório segundo a sua sabedoria e
como melhor lhe aprouver”. Quem faz o ato heróico pode lucrar as
seguintes indulgências, aplicáveis aos defuntos: uma indulgência
plenária cada vez que se aproxima da Comunhão nas condições do costume;
visita à igreja e oração pelo Papa. Outra indulgência plenária cada
segunda-feira, ao ouvir Missa pelos mortos. Os sacerdotes que fizerem o
ato heróico gozam do altar privilegiado pessoal em todos os dias do ano
(P. P. O. 547.).
Exemplo
Um voto heróico
Uma
donzela chamada Gertrudes, acostumara-se desde os mais tenros anos, a
oferecer por intenção das almas do purgatório todas as suas boas obras.
Era tão bem aceita esta devota prática no purgatório e no céu, que
muitas vezes, o Salvador se comprazia em designar-lhe as almas mais
necessitadas. Estas, libertadas pela sua piedosa caridade, se lhe
mostravam gloriosas, para lhe agradecerem e prometiam-lhe não esquecê-la
no paraíso. Passava a vida neste santo exercício e, cheia de
confiança, via em paz aproximar-se a morte, quando o infernal inimigo,
que de tudo sabe fazer ocasião para tentar os homens, começou a
representar-lhe que ela se havia despojado de tudo e de todo mérito
satisfatório de cada boa obra e ia cair no purgatório para nele expiar
em longas penas todas as suas culpas.
Este
tormento de espírito a lançara em tal desolação, que seu Esposo
celeste dignou-se de vir consolá-la. “Por que, disse ele, ó Gertrudes,
estás tão triste e pensativa? Tu que outrora gozavas da mais perfeita
serenidade?”. Ah! Senhor, respondeu ela, em que deplorável situação me
encontro! Vede, a morte se aproxima, achando-me eu privada da satisfação
das minhas boas obras, que apliquei pelos defuntos; com que poderei
pagar a dívida que contraí para com a divina Justiça? Replicou-lhe com
ternura o Senhor: “Não temas, ó querida minha, porque ao contrário,
aumentastes pela tua caridade a soma de teus merecimentos, e não só tens
bastantes para expiares as tuas leves culpas, mas adquiristes altíssimo
grau de glória na bem-aventurança eterna. É assim que minha clemência
reconhecerá com uma generosa recompensa, que cedo virás receber no
paraíso a tua dedicação pelos defuntos”.
Desapareceu
a estas palavras, e a alma de Gertrudes foi incendiada de um novo
fervor e de um ardente desejo de socorrer as almas dos defuntos.
Enchamo-nos
também de zelo e caridade para com essas almas, que rico galardão está
prometido nos céus aos nossos esforços (Dyon, Cart. de nonviss. apud P.
Mart. de Rox de statu animarum, cap. 20.).
sábado, 21 de dezembro de 2019
Auxílio, Auxílio, sofremos muito!
O que é o Purgatório?
É uma prisão de fogo na qual quase todas as almas salvas são submersas depois da morte e na qual sofrem as mais intensas penas.
Aqui está o que os maiores doutores da igreja nos dizem acerca do Purgatório.
Tão lastimoso é o sofrimento delas que um minuto desse horrível fogo parece ser um século.
Santo Tomás Aquino, o príncipe dos teólogos, disse que o fogo do Purgatório é igual em intensidade ao fogo do inferno, e que o mínimo contato com ele é mais aterrador que todos os sofrimentos possíveis desta terra! Santo Agostinho, o maior de todos os santos doutores, ensina que para serem purificadas de suas faltas antes de serem aceitas no Céu, as almas depois de mortas são sujeitas a um fogo mais penetrante e mais terrível do que nenhum que se possa ver, sentir ou conceber nesta vida.
Ainda que este fogo está destinado a limpar e purificar a alma, disse o Santo Doutor, ainda é mais agudo que qualquer coisa que possamos resistir na Terra.
São Cirilo de Alexandria não duvida em dizer que "seria preferível sofrer todos os possíveis tormentos na Terra até o dia final que passar um só dia no Purgatório".
Outro grande Santo disse: Nosso fogo, em comparação com o fogo do Purgatório, é uma brisa fresca ".
Outros santos escritores falam em idênticos termos desse horrível fogo.
Como é que as penas do Purgatório são tão severas? O fogo que vemos na Terra foi feito pela bondade de Deus para nossa comodidade e nosso bem estar.
Às vezes é usado como tormento, e é o mais terrível que podemos imaginar.
O fogo do Purgatório, pelo contrário, está feito pela Justiça de Deus para penar e purificar-nos e é, por conseguinte, incomparavelmente mais severo.
Nosso fogo, como máximo, arde até consumir nosso corpo; feito de matéria, pelo contrário o fogo do Purgatório atua sobre a alma espiritual, a qual é inexplicavelmente mais sensível a pena.
Quanto mais intenso é o fogo, mais rapidamente destrói a sua vitima; a qual, por conseguinte cessa de sofrer; por quanto o fogo do Purgatório infligi a mais aguda e a mais violenta pena, mas nunca mata a alma nem lhe tira a sensibilidade.
Tão severo como é o fogo do Purgatório, é a pena da separação de Deus, a qual a alma também sofre no Purgatório, e esta é a pena mais severa.
A alma separada do corpo deseja com toda a intensidade de sua natureza espiritual estar com Deus.
É consumida de intenso desejo de voar até Ele.
Ainda é retida, e não há palavras para descrever a angustia dessa aspiração insatisfeita.
Que loucura, então, é para um ser inteligente como o ser humano negar qualquer precaução para evitar tal espantoso feito.
É infantil dizer que não pode ser assim, que não o podemos entender, que é melhor não pensar ou não falar dele.
O feito é que, seja o cremos ou não, todas as penas do Purgatório estão mais altas do que podemos imaginar ou conceber.
Estas são as palavras de São Agustinho.
Sobre o Purgatório, Pode tudo isto ser verdade? A existência do Purgatório é tão certa que nenhum católico tem tido nunca uma duvida acerca dele.
Foi ensinado desde os tempos mais remotos pela Igreja e foi aceita com indubitável fé quando a Palavra de Deus foi pregada.
A doutrina é revelada na Sagrada Escritura e crida por milhões e milhões de crentes de todos os tempos. Ainda, tal como o temos remarcado, as idéias de alguns são tão vagas e superficiais neste tema tão importante, que são como pessoas que cerram seus olhos e caminham deliberadamente no fio de um precipício. Seria bem em recordar que a melhor maneira de cortar nossa estadia no Purgatório - o ainda mais, evitá-lo é ter uma clara idéia dele, e de pensar bem nele e adotar os remédios que Deus nos oferece para evitá-lo.
Não pensar nele é fatal. É cavar a si mesmos a fossa, e preparar para eles mesmos um terrifico, largo e rigoroso Purgatório.
O Príncipe Polaco:
Houve um príncipe polaco, que por uma razão política, foi exilado de seu pais natal, e chegado à França, comprou um lindo castelo ali.
Desafortunadamente, perdeu a Fé de sua infância e estava, ocupado em escrever um livro contra Deus e a existência da vida eterna. Dando um passeio uma noite em seu jardim, se encontrou com uma mulher que chorava amargamente. Perguntou-lhe o porquê de seu desconsolo.
"Oh, príncipe, ela replicou, sou a esposa de John Marie, seu mordomo, o qual faleceu faz dois dias. Ele foi um bom marido e um devoto servente de Sua Alteza.
Sua enfermidade foi larga e gastei todos os recursos em médicos, e agora não tenho dinheiro para ir a oferecer uma Missa por sua alma "".
O príncipe, tocado pelo desconsolo desta mulher, lhe disse algumas palavras, e ainda que professava já não crer mais na vida eterna, lhe deu algumas moedas de ouro para ter a Missa por seu defunto esposo.
Um tempo depois, também de noite, o Príncipe estava em seu estúdio trabalhando febrilmente em seu livro.
Escutou um ruidoso tocar a porta, e sem levantar a vista de seus escritos, convidou a quem fosse a entrar.
A porta se abriu e um homem entrou e parou frente ao escritório de Sua Majestade.
Ao levantar a vista, qual não seria a surpresa do Príncipe ao ver a John Marie, seu mordomo morto, que o olhava com um doce sorriso.
Príncipe, lhe disse, "venho a agradecer-lhe pelas Missas que você permitiu que minha mulher encomendasse por minha alma. Graças ao Salvador Sangue de Cristo, oferecido por mim, vou agora ao Céu , mas Deus me permitiu vir aqui e agradecer-lhe por suas generosas esmolas".
Logo o agregou solenemente "Príncipe, há um Deus, uma vida futura, um Céu e um Inferno".
Dito isto, desapareceu.
O Príncipe caiu de joelhos e recitou um Credo.
Santo Antônio e seu amigo
Aqui há uma narração de diferente classe, mas não menos instrutiva.
Santo Antônio, o ilustre Arcebispo de Florência, relata que um piedoso cavaleiro havia morrido, o qual tinha um amigo em um convento Dominicano no qual o Santo residia.
Varias Missas foram sufragadas por sua alma.
O Santo se afligiu muito quando, depois de um prolongado lapso, a alma do falecido lhe apareceu, sofrendo muitíssimo.
"Oh meu querido amigo" exclamou o Arcebispo, estás todavia no Purgatório, tu, que levaste tal piedosa e devota vida?".
"Assim é, e terei que permanecer aqui por um largo tempo" replicou o pobre sofredor, "pois em minha vida na terra fui negligente em oferecer sufrágios pelas almas do Purgatório.
Agora, Deus por seu justo juízo aplica os sufrágios que deviam ser aplicados por mim, em favor daqueles pelos quais devia ter rezado".
"Mas Deus, também, em sua justiça, me dará todos os méritos de minhas boas obras quando entrar ao Céu ; mas, primeiro de todo, tenho que expiar minha grave negligência de não me lembrar dos outros".
Tão certas são as palavras de Nosso Senhor "Com a vara com que medes serás medido".
Recorda, tu que lês estas linhas, o terrível destino desse piedoso cavaleiro será o daqueles que deixam orar e recusam ajudar as Santas Almas.
Leia-me ou lamenta-me
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
Uma alma abandonada e salva por Maria
Conta Santo Afonso nas suas “Glórias de Maria”, este exemplo que é a um tempo uma glorificação da misericórdia da Mãe de Deus e uma prova do abandono em que pode ficar uma alma no purgatório.
Lê-se na vida de soror Catarina de Santo Agostinho, que havia no lugar em que morava esta serva de Deus uma mulher chamada Maria. A infeliz levara urna vida de pecados durante a mocidade. E já envelhecida, de tal forma se obstinara na sua perversidade, que fora expulsa pelos habitantes da cidade e obrigada a viver numa gruta abandonada. Ai morreu, finalmente, sem os sacramentos e sem a assistência de ninguém. Sepultaram-na no campo, como um bruto qualquer. Soror Catarina costumava recomendar a Deus com grande devoção as almas de todos os falecidos. Mas, ao saber da terrível morte da pobre velha, não cuidou de rezar por ela, pensando, como todos os outros, que já estivesse condenada. Eis que, passados quatro anos, em certo dia se lhe apresentou diante uma alma do purgatório, que lhe dizia:
— Soror Catarina, que triste sorte é a minha! Tu encomendas a Deus as almas de todos os que morrem e só da minha alma não tens tido compaixão?
— Mas, quem és tu? Disse a serva de Deus.
— Eu sou, respondeu ela, aquela pobre Maria, que morreu na gruta.
— E como te salvaste? Replicou soror Catarina.
— Sim, eu me salvei por misericórdia da Virgem Maria.
— E como?
— Quando eu me vi próxima à morte, vendo-me juntamente tão cheia de pecados e desamparada de todos, me voltei para a Mãe de Deus e lhe disse: Senhora, vós sois o refúgio dos desamparados. Aqui estou neste estado, abandonada por todos. Vós sois a minha única esperança, só vós me podeis valer; tende piedade de mim. Então a SS. Virgem obteve-me a graça de eu poder fazer um ato de contrição; depois morri e fui salva. Além disso, esta minha Rainha alcançou-me a graça de ser abreviada minha pena por sofrimentos mais intensos, porém menos demorados. Só necessito de algumas Missas para me livrar mais depressa do purgatório. Rogo-te que as faças celebrar. Em troca, prometo-te pedir sempre a Deus e à SS. Virgem por ti.
Soror Catarina logo fez celebrar as missas. Depois de poucos dias, lhe tornou a aparecer aquela alma mais resplandecente do que o sol e lhe disse: Agora vou para o paraíso, cantar as misericórdias do Senhor e rogar por ti.
Doutrina da Igreja sobre o Purgatório
O PURGATÓRIO
DOUTRINA CATÓLICA
Purgatório
(Lat., "purgare", limpar, purificar), de acordo com o ensinamento
Católico, é um lugar ou condição de pena temporária para aqueles que,
partindo desta vida na graça de Deus, não estão inteiramente livre das
faltas veniais ou não cumpriram completamente a satisfação devida por
suas transgressões.
A
fé da Igreja no que diz respeito ao purgatório é claramente expressa no
Decreto de União composto no Concílio de Florença (Mansi, t. XXXI, col.
1031), e no decreto do Concílio de Trento (Sess. XXV) que definiu:
"Já
que a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, apoiada nas
Sagradas Letras e na antiga Tradição dos Padres, ensinou nos sagrados
Concílios e recentemente também neste Concílio Ecumênico, que existe
purgatório, e que as almas que nele estão detidas são aliviadas pelos
sufrágios dos fiéis, principalmente pelo sacrifício do altar, prescreve o
santo Concílio aos bispos que façam com que os fiéis mantenham e creiam
a sã doutrina sobre o purgatório, aliás transmitida pelos santos Padres
e pelos Sagrados Concílios, e que a mesma doutrina seja pregada com
diligência por toda parte" (Denzinger, "Enchiridon", 983).
As
definições da Igreja não vão além, mas a tradição dos Padres e os
Escolásticos devem ser consultados para explicar os ensinamentos dos
concílios e para esclarecer a crença e as práticas dos fiéis.
Pena temporária
É
claro o ensino da Escritura de que a pena temporal seja devida ao
pecado, mesmo depois do próprio pecado ter sido perdoado por Deus. Deus,
de fato, fez o homem sair de sua primeira desobediência e deu-lhe o
poder para governar todas as coisas (Sb 10,2), contudo o condenou a
"comer o seu pão com o suor de seu rosto" até que volte ao pó. Deus
perdoou a incredulidade de Moisés e Aarão, mas como pena, não os deixou
entrar na "terra prometida" (Nm 20,12). O Senhor apagou o pecado de
Davi, mas a vida do seu filho foi tirada porque Davi fez com que os
inimigos de Deus blasfemassem contra seu santo Nome (II Sm 12,13-14). No
Novo Testamento, como no Antigo, a esmola e o jejum, e de modo geral as
obras de penitência, são os verdadeiros frutos do arrependimento (Mt
3,8; Lc 17,3; 3,3). Todo o sistema penitencial da Igreja testemunha que a
aceitação voluntária de obras penitenciais tem sido sempre parte do
verdadeiro arrependimento e o Concílio de Trento (Sess. XIV, can. xi)
lembra aos fiéis que Deus nem sempre redime de toda a pena devida ao
pecado junto com a culpa. Deus requer satisfação, e punirá o pecado, e
esta doutrina envolve como necessária consequência a crença de que o
pecador que falha em fazer penitência nesta vida, deva ser punido no
outro mundo e assim não seja separado eternamente de Deus.
Pecados veniais
Aos
olhos de Deus os pecados de modo algum são iguais, tanto que ninguém
ousa dizer que as faltas cotidianas da fragilidade humana serão punidas
com a mesma severidade com que o serão as graves violações da lei de
Deus. Por outro lado, qualquer um que entre na presença de Deus deve ser
perfeitamente puro, pois no mais estrito sentido os olhos de Deus "são
por demais puros para verem o mal" (Hab 1,13). Pelas faltas veniais,
pelo pagamento da pena temporal devida ao pecado na hora da morte, a
Igreja sempre ensinou a doutrina do purgatório.
Esta
crença foi tão enraizada em nossa comum humanidade que foi aceita pelos
Judeus, e ao menos de modo obscuro pelos pagãos, muito antes da vinda
do Cristianismo. ("Eneida", VI, 735 ss.; Sófocles, "Antígona," 450 ss.).
ERROS
Epifânio
(Haer., lxxv, P.G., XLII, col. 513) acusa Aërius (séc. IV) de ter
ensinado que as orações pelos mortos eram inúteis. Na Idade Média, a
doutrina do purgatório foi rejeitada por Albigenses, Valdenses e
Hussitas. São Bernardo (Serm. lxvi in Cantic., P.L. CLXXXIII, col. 1098)
afirma que os chamados "Apostolici" negavam o purgatório e a utilidade
das orações pelos defuntos. Muitas discussões foram levantadas sobre a
posição dos Gregos na questão do purgatório. Parece que a grande
diferença de opinião não era sobre a existência do purgatório, mas sobre
a natureza do fogo purgatorial; todavia São Tomás prova a existência do
purgatório em sua dissertação contra os erros dos Gregos, e o Concílio
de Florença também achou necessário afirma a fé da Igreja no assunto
(Belarmino, "De Purgatorio," lib. I, cap. i). A Igreja Ortodoxa moderna
nega o purgatório, mas é ainda mais inconsistente para manifestar sua
crença.
No
início da Reforma houve certa hesitação especialmente da parte de
Lutero (Disputa de Leipzig) se a doutrina deveria ser retida, mas como a
brecha aumentou, a negação do purgatório tornou-se universal entre os
Reformadores e Calvino chamou a posição católica de "exitiale commentum quod crucem Christi evacuat... quod fidem nostram labefacit et evertit"
("uma invenção destruidora que esvazia a cruz de Cristo... e que
enfraquece e deturpa a nossa fé", Institutiones, lib. III, cap. v, 6).
Os Protestantes Modernos, enquanto evitam o nome purgatório,
frequentemente ensinam a doutrina do "estado intermediário" e Martensen
("Christian Dogmatics," Edinburgh, 1890, p. 457) escreve: "Já que
nenhuma alma deixa esta existência presente num estado plenamente
preparado e completo, devemos supor que haja um estado intermediário,
uma região de desenvolvimento progressivo, (?) em que as almas são
preparadas para o juízo final" (Farrar, "Mercy and Judgment," London,
1881, cap. iii).
PROVAS
A
doutrina Católica do purgatório supõe o fato de que alguns morrem com
faltas menores, das quais não houve verdadeiro arrependimento, e também o
fato de que a pena temporal devida ao pecado não foi completamente paga
nesta vida. As provas para a posição Católica, tanto na Escritura como
na Tradição, também estão unidas na prática de se rezar pelos mortos.
Pois por que razão rezar pelos mortos, se não houver uma crença no poder
das orações de proporcionar conforto àqueles que ainda estão excluídos
da visão de Deus? Tão veraz é este posicionamento que as orações pelos
mortos e a existência de um lugar de purgação são mencionados
conjuntamente nas mais antigas passagens dos Padres, os quais alegam
razões para se socorrer as almas dos defuntos. Os que se opuseram à
doutrina do purgatório confessaram que orações pelos mortos seriam um
argumento irrefutável se a moderna doutrina de um "juízo particular"
tivesse sido recebida nos tempos primitivos.
Mas
basta ler os testemunhos alegados em seguida para se assegurar que os
Padres falam, de uma vez só, de oblações pelos mortos de um lugar de
purgação; e basta consultar as evidências encontradas nas catacumbas
para igualmente se assegurar que a fé Cristã lá expressa abraçou
claramente uma crença no juízo imediato à morte. Wilpert ("Roma
Sotteranea," I, 441) assim conclui o capítulo 21, "Che tale
esaudimento", etc.:
A
intercessão foi feita pela alma do ente querido falecido e Deus ouviu a
oração e a alma passou para um lugar de luz e refrigério".
"Certamente," Wilpert acrescenta, "tal intercessão não teria lugar se
não se tratasse do juízo particular e sim do final.
Alguma
ênfase também foi colocada na objeção de que os antigos Cristãos não
tinham concepção clara do purgatório, e que eles pensavam que as almas
dos falecidos permaneciam na incerteza da salvação até o juízo; e
consequentemente eles rezavam para que os que partiram antes pudessem
ser livrados, no juízo final, dos tormentos eternos do inferno. As mais
antigas tradições Cristãs são claras quanto ao juízo particular, e mais
ainda no que tange a uma nítida distinção entre o purgatório e o
inferno. As passagens alegadas como referentes a livrar-se do inferno
não podem compensar as evidências dadas abaixo (Belarmino, "De
Purgatorio," lib. II, cap. v). Quanto ao famoso caso de Trajano, que
inquietou os Doutores da Idade Média, conferir Belarmino, loc. cit.,
cap. Viii.
Antigo Testamento
A tradição dos Judeus é proposta com precisão e clareza no II Livro dos Macabeus. Judas, o comandante das forças de Israel,
fez
uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se
oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir,
decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse
que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles.
Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem
piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele
pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas
faltas. (2Mc 12,43-46)
No
tempo os Macabeus, líderes do povo de Deus, não hesitaram em afirmar a
eficácia das orações oferecidas pelos mortos, na intenção de que aqueles
que partiram desta vida encontrassem perdão para seus pecados e
esperança de eterna ressurreição.
Novo Testamento
Há
várias passagens no Novo Testamento que apontam para um processo de
purificação após a morte. Assim, Jesus Cristo declara (Mt 12,32): "Todo
o que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém,
falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem
no século vindouro". De acordo com Santo Isidoro de Sevilha (Deord. creatur., c. xiv, n. 6) estas palavras provam que na próxima vida "alguns pecados serão perdoados e purgados por um certo fogo purificador". Santo Agostinho também argumenta que "não
se diria verdadeiramente que alguns pecadores não serão perdoados nem
neste mundo nem no próximo a menos que houvessem outros [pecadores] que,
não perdoados neste, serão perdoados no próximo" (Cidade de Deus
XXI.24). A mesma interpretação é dada por Gregório Magno (Dial., IV,
xxxix); São Beda (comentário neste texto); São Bernardo (Sermo lxvi in
Cantic., n. 11) e outros eminentes teólogos.
Um outro argumento é fornecido por São Paulo em 1Cor 3,11-15:
"Quanto
ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto:
Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro,
ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com
palha, a obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento)
demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o
trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a
recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém
passando de alguma maneira através do fogo".
Enquanto
esta passagem apresenta considerável dificuldade, ela é considerada por
muitos dos Padres e teólogos como evidência da existência de um estado
intermediário em que o entulho das transgressões mais leves será
queimado, e a alma assim purificada será salva. Esta, de acordo com
Belarmino (De Purg., I, 5), é a interpretação comumente dada pelos
Padres e teólogos; e cita para este efeito:
Santo Ambrósio (comentário ao texto, e Sermo xx in Ps. cxvii),
São Jerônimo, (Comentário sobre Amós, c. iv),
Santo Agostinho (Comentários ao Salmo 37),
São Gregório (Dial., IV, xxxix), e
Orígenes (Homilia VI sobre o Êxodo).
Veja-se
também São Tomás, "Contra Gentes", IV, 91. Para uma discussão do
problema exegético, ver Atzberger, "Die christliche Eschatologie", p.
275.
Tradição
Esta
doutrina de que vários dos que morreram estão ainda num lugar de
purificação e que orações são úteis para ajudar os mortos é parte da
mais antiga tradição Cristã. Tertuliano, no "De corona militis", menciona orações pelos mortos como um mandato Apostólico, e no "De Monogamia" (capítulo 10) ele aconselha a viúva a "rezar pela alma de seu marido, pedindo repouso para ele e participação na primeira ressurreição"; ele manda também que ela "faça oferendas por ele no aniversário de seu falecimento",
e culpa-a de infidelidade se ela for negligente em socorrer sua alma.
Este costume estabelecido na Igreja é claro em São Cipriano, que (P.L.
IV, col. 399) proibiu as costumeiras orações por aquele que violou a lei
eclesiástica. "Nossos
predecessores prudentemente advertiram que nenhum irmão, partindo desta
vida, pode nomear um clérigo como seu executor [testamentário] (pois este ofício não podia ser recusado no Direito Romano); e se ele o fizer, nenhuma oferenda deverá ser feita por ele, nem o sacrifício oferecido pelo seu repouso".
Muito
antes de Cipriano, Clemente de Alexandria enveredou pela questão do
estado ou condição do homem que, reconciliado com Deus no leito de
morte, não teve tempo para cumprir a penitência devida à sua
transgressão. Sua resposta é: "o
fiel, pela disciplina, despoja-se de suas paixões e passa para a mansão
que é melhor que a primeira, ou seja, passa para o maior tormento,
exercitando o arrependimento pelas faltas cometidas depois do batismo.
Ele, então, é torturado ainda mais, não tendo alcançado o que vê outros
terem conseguido. Os maiores tormentos, de fato, são indicados ao fiel.
Pois a justiça de Deus é boa, e sua bondade é justa. Embora essas penas
cessem no curso da expiação e purificação de cada um, ainda que..." etc. (P.G. IX, col. 332).
Em
Orígenes a doutrina do Purgatório é muito clara. Se um homem parte
desta vida com faltas leves, ele é condenado a um fogo que queima o
material leve, e prepara a alma para o reino de Deus, onde nada sujo
pode entrar. "Pois
se no fundamento de Cristo tu construíste não só ouro e prata e pedras
preciosas (1Cor 3), mas também madeira, feno e capim, o que esperas
quando a alma tiver de se separar do corpo? Entrarias no céu com tua
madeira, feno e capim e assim sujarias o reino de Deus, ou por causa
destes impedimentos ficarias de fora e recompensa nenhuma terias pelo
teu ouro, prata e pedras preciosas? Nada disso é justo. Resta, pois, que
serás entregue a um fogo que queima o material leve, pois nosso Deus,
para os que compreendem as coisas celestes, é chamado de fogo
purificador. Mas este fogo não consome a criatura, mas a obra dela, a
madeira, o feno e a grama. Está claro que o fogo destrói a madeira de
nossas transgressões e nos entrega a recompensa de nossas grandes obras" (P.G., XIII, col. 445, 448).
A
prática apostólica de se rezar pelos mortos, que passou para a Liturgia
da Igreja, é tão clara no séc. IV como no XX. São Cirilo de Jerusalém
(Catequeses Mistagógicas V.9) descrevendo a liturgia, escreve: "Depois
ainda rezamos pelos santos padres, bispos adormecidos e, enfim, por
todos os que partiram em comunhão conosco, persuadidos de que será de
máximo proveito para as almas, pelas quais a súplica é elevada enquanto
repousa a santa e tremenda vítima no altar". São Gregório de Nissa
(P.G., XLVI, col. 524, 525) afirma que a fraqueza do homem é purgada
nesta vida pela oração e pela sabedoria, ou expiada na próxima por um
fogo purificador. "Quando
ele deixar o corpo e for conhecida a diferença entre o vício e a
virtude, ele não poderá aproximar-se de Deus até que o fogo purificador
tenha limpado todas as manchas com que sua alma se infestou. Este mesmo
fogo em outros cancelará a corrupção da matéria e a propensão ao mal". Pelo mesmo período as Constituições Apostólicas nos dão os formulários usados para socorrer os mortos. "Oremos
por nosso irmão que adormeceu em Cristo, para que Deus, que em seu amor
pelos homens recebeu a alma deste falecido, perdoe-lhe toda falta, e em
misericórdia e clemência o receba no seio de Abraão, com os que nesta
vida agradaram a Deus" (P.G. I, col. 1144). Nem podemos passar por
cima do uso dos dípticos onde os nomes dos mortos eram inscritos; e sua
recordação pelo nome nos Sagrados Mistérios (uma prática vinda dos
Apóstolos) era considerada por Crisóstomo como a melhor forma de
socorrer os mortos (Homilia 41 na Primeira Carta aos Coríntios, n. 8).
O
ensinamento dos Padres e os formulários usados na Liturgia da Igreja,
encontram expressão nos antigos monumentos Cristãos, particularmente
naqueles contidos nas catacumbas. Nas tumbas dos fiéis eram inscritas
palavras de esperança, pedidos por paz e descanso; e os aniversários
traziam os fiéis ao redor dos túmulos dos falecidos para fazerem
intercessão pelos que os precederam. Na realidade isto não é nada mais
que a fé expressada no Concílio de Trento (Sess. XXV, "De Purgatorio"), e
para esta fé as inscrições nas catacumbas são, sem dúvida, testemunhas.
No
séc. IV no Ocidente, Ambrósio insiste, no seu comentário a São Paulo
(1Cor 3), na existência do purgatório, e em seu magistral discurso
funeral (De obitu Theodosii), assim reza pela alma do imperador
falecido: "Dai,
ó Senhor, descanso ao vosso servo Teodósio, aquele descanso que
preparastes para os vossos santos... Eu o amei, por isso o seguirei para
a terra dos vivos; não o deixarei até que minhas orações e lamentos
façam com que seja admitido no monte santo do Senhor, para onde é
chamado" (P.L., XVI, col. 1397). Santo Agostinho é ainda mais claro que seu mestre. Ele descreve duas condições dos homens: "alguns
lá estão que partiram desta vida não tão ruins para que fossem julgados
indignos de misericórdia, nem tão bons para estarem habilitados à
felicidade imediata" etc., e na ressurreição ele diz que haverão alguns que "terão passado por estas dores, às quais estão susctíveis os espíritos dos mortos" (Cidade de Deus XXI.24). E assim, pelo fim do séc. IV:
-
não só havia orações pelos mortos em todas as liturgias, como os Padres
afirmaram que tais práticas vieram dos próprios Apóstolos;
- os que eram auxiliados pelas orações dos fiéis e pela celebração dos Sagrados Mistérios estavam num lugar de purgação;
- de onde, quando purificados, "eram admitidos no Monte Santo do Senhor".
Tão
clara é esta Tradição patrística que aqueles que não acreditam no
purgatório foram incapazes de mostrar qualquer séria dificuldade dos
escritos dos Padres. As passagens citadas como contrárias ou não tocam a
questão como um todo ou não são tão claras, de modo que não se
equiparam à expressão perfeitamente aberta da doutrina como encontrada
na maioria dos Padres que são citados como de opiniões contrárias
(Belarmino "De Purg.", lib. I, cap. xiii).
DURAÇÃO E NATUREZA
Duração
A
maioria das razões indicadas para a existência do purgatório apontam
seu caráter passageiro. Nós rezamos, oferecemos sacrifícios pelas almas
aí detidas a fim de que "Deus na misericórdia perdoe toda falta e as receba no seio de Abraão"
(Constituições Apostólicas); e Agostinho (Cidade de Deus XXI.13, 16)
declara que a pena do purgatório é temporária e será, no mínimo, com o
Juízo Final. "Penas
temporárias são sofridas por alguns nesta vida apenas, por outros após a
morte, por outros tanto agora como depois; mas todos eles antes do
último e mais rigoroso juízo".
Natureza da pena
É
evidente, pelas Liturgias e pelos Padres acima citados, que as almas
por quem se ofereceu o sacrifício pacífico foram impedidas da visão de
Deus por um tempo. Elas não estavam "tão boas para estarem habilitadas à felicidade imediata". Para elas, ainda, a morte "não é o salário da natureza, mas do pecado"
(Ambrósio, "De obitu Theodos."); e esta incapacidade para o pecado
torna-as seguras de sua felicidade final. Este é o posicionamento
Católico proclamado por Leão X na Bula "Exurge Domine", que condenou os
erros de Lutero.
As
almas detidas no purgatório estão cientes de que sua felicidade está
apenas prorrogada, ou ainda têm dúvida sobre sua salvação? As antigas
Liturgias e inscrições nas catacumbas falam de um "sono de paz", o que
seria impossível se houvesse qualquer dúvida acerca da salvação
definitiva. Alguns dos Doutores da Idade Média pensavam que a incerteza
da salvação era uma das severas penas do purgatório. (Belarmino, "De
Purgat." lib. II, cap. iv); mas esta opinião em geral não tem nenhum
crédito entre os teólogos da era medieval, nem é possível à luz da
crença no juízo particular. São Boaventura dá como razão de se eliminar
este medo e esta incerteza, a convicção de que elas não podem mais pecar
(lib. IV, dist. xx, p.1, a.1 q. iv): "Est evacuatio timoris propter confirmationem liberi arbitrii, qua deinceps scit se peccare non posse"
(O temor é lançado fora por causa do revigoramento do livre arbítrio
pelo qual a alma sabe que não pode mais pecar), e São Tomás (dist. xxi,
q. i, a.1) diz: "nisi scirent se esse liberandas suffragia non peterent" (se não soubessem que haveriam de ser libertadas, não pediriam sufrágios).
Mérito
Na Bula "Exurge Domine", Leão X condena a proposição (n. 38) "Nec probatum est ullis aut rationibus aut scripturis ipsas esse extra statum merendi aut augendae caritatis"
(Não se prova em lugar algum pela razão ou pela Escritura que elas [as
almas no purgatório] não possam ganhar méritos ou crescer na caridade).
Para elas "chegou a noite, em que o homem não pode mais trabalhar", e a
tradição Cristã sempre considerou que somente nesta vida o homem pode
trabalhar pelo bem de sua alma. Os Doutores da Idade Média, enquanto
aceitando que esta vida é o momento para o mérito e o aumento da graça,
ainda alguns com São Tomás pareceram questionar se há ou não uma
recompensa não essencial que as almas no purgatório possam merecer (IV,
dist. xxi, q. i, a. 3). Belarmino acredita que nesta matéria São Tomás
mudou sua opinião, e faz referência a uma afirmação de São Tomás ("De
Malo", q. vii, a. 11).
Seja
qual for o pensamento do Doutor Angélico, os teólogos aceitam que
nenhum mérito é possível no purgatório, e se surgir a objeção de que as
almas ganham mérito lá pelas suas orações, Belarmino diz que tais
orações são úteis por casa de méritos já adquiridos: "Solum impetrant ex meritis praeteritis quomodo nunc sancti orando pro nobis impetrant licet non merendo"
(Elas rezam pelos méritos adquiridos, como os que agora são santos e
que rezam por nós, mesmo sem ganhar méritos). (loc. cit. II, cap. iii).
Fogo purificador
No
Concílio de Florença, Bessarion argumentou contra a existência de um
fogo purgatorial real, e os Gregos estavam seguros de que a Igreja
romana nunca tinha emitido nenhum decreto dogmático neste assunto. No
Ocidente a crença na existência de um fogo real é comum. Agostinho
(Comentários ao Salmo 37, n. 3) fala da dor que o fogo purgatorial causa
no homem, mais aguda que qualquer outra coisa que o homem possa padecer
nesta vida, "gravior erit ignis quam quidquid potest homo pati in hac vita" (P.L., col. 397). Gregório Magno fala daqueles que depois da vida "expiarão suas faltas por chamas purgatoriais", e acrescenta "ser a dor mais intolerável que qualquer outra sofrível nesta vida" (Ps. 3 poenit., n. 1).
Seguindo
os passos de São Gregório, São Tomás ensina (IV, dist. xxi, q. i, a.1)
que junto da separação da alma da vista de Deus, há a outra pena, pelo
fogo. "Una poena damni, in quantum scilicet retardantur a divina visione; alia sensus secundum quod ab igne punientur",
e São Boaventura não só concorda com São Tomás, como acrescenta (IV,
dist. xx, p.1, a.1, q. ii) que esta pena pelo fogo é mais severa que
qualquer pena que possa ser dada pelos homens nesta vida; "Gravior est omni temporali poena, quam modo sustinet anima carni conjuncta".
Como este fogo afeta as almas dos falecidos os Doutores não sabem, e em
tais matérias vale a exortação do Concílio de Trento que manda serem "excluídas das pregações populares à gente simples as questões difíceis e sutis e as que não edificam nem aumentam a piedade" (Sess. XXV, "De Purgatorio").
SOCORRENDO OS FALECIDOS
A
Escritura e os Padres mandam orações e ofertas pelos falecidos, e o
Concílio de Trento (Sess. XXV, "De Purgatorio") em virtude desta
tradição não só afirma a existência do purgatório, como acrescenta "que as almas que nele estão detidas são aliviadas pelos sufrágios dos fiéis, principalmente pelo sacrifício do altar".
Que
aqueles que estão na terra ainda estão em comunhão com as almas do
purgatório é o ensinamento mais antigo dos Cristãos, e que os vivos
ajudam os mortos por suas orações e obras de satisfação é evidente pela
tradição acima mencionada. Que o Santo Sacrifício tenha sido oferecido
pelos falecidos é Tradição Católica recebida já nos dias de Tertuliano e
Cipriano, e que as almas dos mortos são ajudadas sobretudo "quando repousa a vítima sagrada sobre o altar" é a expressão de Cirilo de Jerusalém, citada acima. Agostinho (Serm. clxii, n. 2) diz que as "orações
e esmolas dos fiéis, o Santo Sacrifício do altar ajudam os fiéis
falecidos e move o Senhor a tratá-los em misericórdia e bondade" e, acrescenta, "esta é a prática da Igreja universal herdada dos Padres".
Se nossas obras de satisfação realizadas em favor dos mortos são
aceitas simplesmente pela benevolência e misericórdia de Deus, ou se
Deus se obriga em justiça a aceitar nossa reparação no lugar delas, não é
uma questão respondida. Francisco Suárez pensa que a aceitação é pela
justiça, e alega a prática comum da Igreja que reúne os vivos e mortos
sem discriminação (De poenit., disp. xlviii, 6, n. 4).
INDULGÊNCIAS
O
Concílio de Trento (Sess. XXV) definiu que as indulgências são "muito
salutares para o povo Cristão" e que "se deve manter o seu uso na
Igreja". É o ensinamento comum dos teólogos Católicos que:
1. indulgências são aplicáveis às almas do purgatório; e
2. indulgências estão disponíveis para elas "em forma de sufrágio" (per modum suffragii).
(1)
Agostinho (Cidade de Deus XX.9) declara que as almas dos fiéis
falecidos não estão separadas da Igreja, que é o Reino de Cristo, e por
esta razão as orações e obras dos vivos são úteis aos mortos. "Se então", argumenta Belarmino (De indulgentiis, xiv) "podemos
oferecer nossas orações e satisfações em favor das almas do purgatório,
por sermos membros do grande corpo de Cristo, porque não pode o Vigário
de Cristo aplicar a essas almas a satisfação superabundante de Cristo e
seus santos, da qual ele é dispenseiro?" Esta é a doutrina de São
Tomás (IV, Sent., dist. xlv, q. ii, a. 3, q. 2) que afirma que as
indulgências aproveitam principalmente para aquele que realiza a obra
indulgenciada, e ao menos em segundo plano pode aproveitar para os
mortos, se a forma em que a indulgência é dada estiver expressa de tal
modo que possibilite esta interpretação, e ele acrescenta "nem
há qualquer razão pela qual a Igreja não possa dispor de seu tesouro de
méritos em favor dos mortos, como certamente se faz em favor dos vivos".
(2)
São Boaventura (IV, Sent., dist. xx, p. 2, q. v) concorda com São
Tomás, mas acrescenta que tal "remissão não se faz a modo de absolvição,
como no caso dos vivos, mas como sufrágio" (Haec non tenet modum judicii, sed potius suffragii).
Esta opinião de São Boaventura, de que a Igreja através do seu Supremo
Pastor não absolve juridicamente as almas do purgatório da pena devida
pelos seus pecados, é o ensinamento dos Doutores. Eles apontam (Gratian,
24 q. ii, 2, can.1) que no caso daqueles que partiram desta vida, o
julgamento é reservado a Deus; eles alegam a autoridade de Gelásio (Ep.
ad Fausturn; Ep. ad. Episcopos Dardaniae) como apoio a seu argumento
(Gratian ibid.), e também insistem que os Romanos Pontífices, quando
concedem indulgências aplicáveis aos mortos, acrescentam a restrição "per modum suffragii et deprecationis". Esta frase é encontrada na Bula de Sisto IV "Romani Pontificis provida diligentia", 27 de Nov. de 1447.
A frase "per modum suffragi et deprecationis"
tem sido interpretada de várias formas pelos teólogos (Belarmino, "De
indulgentiis", p.137). O próprio Belarmino diz: "A verdadeira opinião é
de que indulgências aroveitam como sufrágio, pois não aproveitam ao modo
de absolvição jurídica 'quia non prosunt per modum juridicae absolutionis'." Mas de acordo com o mesmo autor, os sufrágios dos fiéis aproveitam às vezes "per modum meriti congrui" (por meio de mérito), às vezes "per modum impetrationis" (por meio de súplica), às vezes "per modum satisfactionis" (por meio de satisfação); mas quando se trata de aplicar uma indulgência a alguém no purgatório, sempre é "per modum suffragii satisfactorii" e por esta razão "o
papa não absolve a alma no purgatório das penas devidas pelos seus
pecados, mas oferece a Deus, do tesouro da Igreja, tudo o que seja
necessário para o cancelamento de sua pena".
Se
a questão for refeita indagando se tal satisfação é aceita por Deus por
misericórdia e benevolência, ou "ex justitia", os teólogos não estão de
acordo — alguns sustentam uma opinião e outros, a outras. Belarmino,
depois de investigar os dois lados (pp. 137, 138), não se atreve a
deixar nenhuma de lado, mas está inclinado a pensar que a primeira é
mais razoável enquanto diz que a última está em harmonia com a piedade
("admodum pia").
Condições
Para que uma indulgência aproveite para os que estão no purgatório, várias condições são necessárias:
A indulgência deve ser estabelecida pelo papa.
Deve
haver razão suficiente para se dar a indulgência, e esta razão deve ser
algo referente à glória de Deus e o bem da Igreja, não meramente o
proveito que resulta às almas no purgatório.
A obra piedosa deve ser como no caso das indulgências para os vivos.
Se
o estado de graça não estiver entre os requisitos, em todo caso a
pessoa pode lucrar a indulgência para os falecidos, ainda que ele não
esteja na amizade com Deus (Belarmino, loc. cit., p. 139). Francisco
Suárez (De Poenit., disp. Iiii, s. 4, n. 5 and 6) deixa isso bem claro
quando diz: "Status gratiæ solum requiritur ad tollendum obicem indulgentiæ"
(o estado de graça só se requer para remover algum impedimento da
alma), e no caso das santas almas não pode haver impedimento. Este
ensinamento está ligado à doutrina da Comunhão dos Santos, e os
monumentos das catacumbas representam os santos e mártires como que
intercedendo a Deus pelos mortos. Também as orações das antigas
liturgias falam de Maria e dos santos intercedendo pelos que passaram
desta vida. Agostinho acredita que um enterro numa basílica cujo titular
seja um santo mártir é de valor para o falecido, pois os que ali
celebram a memória daquele que sofrem, recomendarão orações ao mártir
por aquele que passou desta vida (Belarmino, lib. II, xv). No mesmo
lugar Belarmino acusa Dominicus A Soto de imprudência, porque ele negou
esta doutrina.
INVOCAÇÃO DAS ALMAS
As
almas do purgatório rezam por nós? Podemos chamá-las em nossas
necessidades? Não há definição ou decisão da Igreja neste assunto e nem
os teólogos se pronunciaram definitivamente no que diz respeito à
invocação das almas do purgatório e sua intercessão pelos vivos. Nas
antigas liturgias não há orações da Igreja dirigida aos que estão ainda
no purgatório. Nas tumbas dos primeiros cristãos nada é tão comum quanto
uma oração ou súplica pedindo ao falecido para intercer a Deus pelos
amigos vivos, mas estas inscrições parecem supor que o falecido já está
com Deus.
São
Tomás (II-II.83.11) nega que as almas do purgatório rezam pelos vivos, e
afirma que eles não estão em condição de rezar por nós, antes nós é que
devemos interceder por eles. Não obstante a autoridade de São Tomás,
muitos teólogos renomados sustentam que as almas do purgatório rezam por
nós e que devemos invocar seu auxílio.
Belarmino
(De Purgatorio, lib. II, xv,) diz que a razão alegada por São Tomás não
é de todo convincente e sustenta que, em virtude de seu amor de Deus e
sua união com ele, suas orações devem ter um grande poder de
intercessão, pois elas são deveras superiores a nós no amor de Deus e na
intimidade da união com ele. Francisco Suárez (De poenit., disp. xlvii,
s. 2, n. 9) vai além e afirma "que
as almas do purgatório são santas, queridas a Deus, amam-nos com um
verdadeiro amor e são cientes de nossos desejos; pois elas sabem, de um
modo geral, quais são nossas necessidades e perigos, e quão grande é
nossa necessidade do auxílio e da graça divinos".
Quando
há a questão de invocar as orações dos que estão no purgatório,
Belarmino (loc. cit.) diz que isto é supérfluo, ordinariamente falando,
pois elas são ignorantes de nossas circunstâncias e condições. Isto está
em desacordo com a opinião de Francisco Suárez, que admite
conhecimento, pelo menos de um modo geral, e também com a opinião de
muitos teólogos atuais que apontam para a prática hoje comum de quase
todos os fiéis dirigirem suas orações e pedidos de ajuda para aqueles
que ainda estão no lugar da purificação. Scavini (Theol. Moral., XI, n.
174) não vê razões pelas quais as almas do purgatório não possam rezar
por nós, da mesma forma como rezamos uns pelos outros.
Ele
afirma que esta prática tornou-se comum em Roma, e teve o grande nome
de Santo Afonso em seu favor. Santo Afonso, em sua obra "Grandes Meios
de Salvação", cap. I, III, 2, depois de citar Sylvius, Gotti, Lessius, e
Medina como favoráveis à sua opinião, conclui: "então,
as almas do purgatório, sendo amadas por Deus e confirmadas na graça,
não têm absolutamente qualquer impedimento para rezarem por nós. Ainda
que a Igreja não as invoque ou implore sua intercessão, porque
normalmente elas não têm conhecimento de nossas orações. Mas podemos
acreditar piamente que Deus torna nossa orações conhecidas a elas". Ele também alega a autoridade de Santa Catarina de Bolonha, a qual "sempre que desejou algum favor, recorreu às almas do purgatório e foi imediatamente ouvida".
UTILIDADE DA ORAÇÃO PELOS FALECIDOS
É
da fé tradicional dos Católicos que as almas do purgatório não estão
separadas da Igreja, e que a caridade, que é o laço de união entre os
membros da Igreja, abraça estes que partiram desta vida na graça de
Deus. Assim, uma vez que as nossas orações e nossos sacrifícios podem
ajudar aqueles que ainda estão à espera no purgatório, os santos não
hesitaram em nos avisar que temos um verdadeiro dever para com aqueles
que ainda estão na expiação purificatória. A Santa Igreja, pela
Congregação das Indulgências, em 18 de dezembro de 1885, concedeu uma
bênção especial ao chamado "ato heróico", pelo qual "um
membro da Igreja Militante oferece a Deus, pelas almas do purgatório,
todas as obras satisfatórias que ele realizará durante sua vida e também
os sofrimentos que poderá passar depois da morte [no purgatório]" (Heroic Act, vol. VII, 292).
A
prática de devoção aos falecidos é também consoladora para a humanidade
e eminentemente digna de uma religião que dá auxílio aos mais puros
sentimentos do coração humano. "Doce", disse o Cardeal Wiseman (lecture XI), "é
a consolação de um homem morto que, ciente de sua imperfeição, acredita
que há outros que intercederão por ele, quando já não há espaço para
seus próprios méritos; confortador para os que vivem e se afligem é o
pensamento de que eles possuem meios poderosos para livrar seus amigos.
No primeiro momento de luto, este sentimento normalmente ultrapassará o
preconceito religioso, curvará o descrente sobre seus joelhos ao lado do
corpo de seu amigo e lhe roubará uma inconsciente prece por repouso;
este é um impulso da natureza que, pelo momento, ajudada por analogias
da verdade revelada, toma posse desta crença consoladora. Mas isso é só
uma luz melancólica e passageira, enquanto o sentimento Católico, de
torcer [pelo falecido] mesmo com um luto solene, assemelha-se a uma
lâmpada inextinguível, a qual se diz que a piedade dos antigos pendurou
diante dos sepulcros de seus mortos".
Fonte: Hanna, Edward. "Purgatory." The Catholic Encyclopedia. Vol. 12. New York: Robert Appleton Company, 1911. 6 Nov. 2010 http://www.newadvent.org/cathen/12575a.htm.
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